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Desnorteio, de Paula Fábrio

Desnorteio
Paula Fábrio
Editora Patuá, 2013
140 p.

Um dia a menos. Outro dia a menos. Um dia a menos. Outro dia a menos. Tudo o que se viveu. O tempo que nos resta. Ninguém faz essa conta aos quinze anos. Será que nos abandonamos à loucura num momento de contabilidade?

Talvez tenha sido no inverno que os três irmãos Oliveira se tornaram mendigos, mas o primeiro desvario pode ter acontecido em outra estação. À noite, por certo. Na noite frágil dos nossos pensamentos as possibilidades se alargam.

Amor, loucura e morte não se explicam, mas o percurso até eles tem sua dose de encanto e repugnância. E esta história começa no meio desse caminho. Mais precisamente no vagão da segunda classe de um antigo trem da estrada de ferro sorocabana.

Um jovem ainda sem barba nem bigode estremece ao ouvir o nome da próxima estação. Sem meios de compreender aos seus instintos, o rapaz só consegue se lembrar que há horas não coloca nada no estômago.

É o primeiro romance de Paula Fábrio (1970). Uma estreia premiada pela indicação ao Prêmio São Paulo de Literatura. E mais uma investida certeira da editora Patuá.

São múltiplas as vozes que narram a história de três irmãos - Rodolfo, Miguel e Benévolo - que passam a viver como mendigos. A história se inicia no final século XIX e se estende até os anos 2000. A narrativa gira em torno de um casebre, dentro do qual os irmãos estão presos como fantasmas numa mansão mal-assombrada. Um jogo de memórias permeia toda a narrativa. Interessante: numa época em que se publica livros sobre mortos-vivos, aqui os personagens parecem-se - se é que isso exite - vivos-mortos; pessoas que estão vivas, sim, mas absolutamente mortas para o "mundo civil". 

Para além dos irmãos, surgem também personagens femininas. E é interessante como Fábrio usa o carnaval, que em nossa literatura  - e para todo o mundo - é sinônimo de cor e alegria, mas que aqui é um evento muito mais sombrio. 

Uma história essencialmente violenta, mas que Fábrio consegue desenvolver de forma pungente, com muita energia mas sempre com elegância na escrita, sem cair na rotina do texto explicitamente violento, que por tanto tempo dominou toda a narrativa brasileira.

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