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As vacas de Stalin, de Sofi Oksanen

Expurgo
Sofi Oksanen
Tradução: Pasi Loman e Lilia Loman
Editora Record, 2013
416 p.

Li com atraso Expurgo e não quis repetir a demora quando este As vacas de Stálin foi lançado no Brasil, também pela editora Record, mas agora traduzido diretamente do finlandês por Pasi e Lilia Loman. Enquanto isso, espero que alguma mostra de cinema ou distribuidora traga para os trópicos a versão cinematográfica do primeiro.

Expurgo foi originalmente escrito como peça de teatro e somente mais tarde transformado em romance. As vacas é o primeiro livro da autora. 


Aqui, Sofi Oksanen (1977) trata da história de três gerações - Sofia, estoniana que viveu o período da ocupação, na década de 30 e as deportações para os gulags; sua filha Katariina, que casou com um finlandês e imigrou para a Finlândia, escapando da vida soviética - não é fácil a vida de imigrante algum, ainda mais quando suas conterrâneas são associadas imediatamente a prostitutas no novo país - e Anna, já finlandesa, anoréxica e bulímica que, com seus eternos cinquenta quilos, se converte em um brinquedo sexual. Refere-se ao seu distúrbio como Meu Senhor. Ela e a mãe procuram ao máximo esconder sua origem.

Tal como no livro anterior, a história é elaborada a partir de recortes temporais e narrativos. Em Expurgo, a autora chegou quase à perfeição. Aqui, na estreia, nem tanto, o que mostra a rápida e consistente evolução da escritora.

Mas, afinal, qual o interesse que um leitor brasileiro pode ter numa história que se desenrola entre a Finlândia e a Estônia? Em princípio, nenhum. Mas o que realmente se discute, aqui, não é a ambientação histórica ou considerações geopolíticas. Não é um romance histórico, como uma leitura apressada poderia sugerir. Trata-se de algo sobre o qual continuamos na estaca zero - como lidar com o passado? como as diferentes gerações lidam com os eventos históricos, cujas consequências se prolongam por décadas?




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