A outra mesa a que assistimos foi a 14, reunindo a americana Lydia Davis e o irlandês John Banville, tratando dos limites da prosa.
A americana se notabilizou por uma prosa curta - às vezes, de poucas linhas e frases, quase aforismas, à moda de Kafka. Sua prosa é considerada bastante experimentalista. Curiosamente, o mediador da mesa pareceu um tanto grosseiro, ao falar que seus textos se parecem "resumos" de histórias. Não fomos os únicos a ter essa opinião, tanto na tenda do telão, onde estávamos, quanto na fila para autógrafos, mas não vi essa mesma impressão em nenhum artigo sobre o evento.
Perguntada sobre seu processo criativo, mais especificamente sobre suas fontes de inspiração, respondeu: o que faço é sempre tomar nota das coisas que acontecem comigo; pode ser uma mosca pousada no papel, uma conversa que ouvi na rua. Tenho muitos bloquinhos. Em geral, o conto está esperando. Às vezes, pego os papeizinhos e levo para minha mesa; vou melhorando um pouco.
Penso neles como fragmentos de uma história completa; não de forma negativa, mas começando no meio e também terminando no meio...
A prosa curta é uma arte difícil. Trabalha-se como ourives, usando pouca matéria-prima, que tem de estar no lugar certo. A escolha das palavras é muito mais importante que o próprio enredo; não há tempo para erros. Depois, ela me diria: sim, é muito difícil; tento há mais de quarenta anos e continua difícil.
Penso neles como fragmentos de uma história completa; não de forma negativa, mas começando no meio e também terminando no meio...
A prosa curta é uma arte difícil. Trabalha-se como ourives, usando pouca matéria-prima, que tem de estar no lugar certo. A escolha das palavras é muito mais importante que o próprio enredo; não há tempo para erros. Depois, ela me diria: sim, é muito difícil; tento há mais de quarenta anos e continua difícil.
Também não se furtou a dizer que, conquanto não entenda que o escritor não deva ser panfletário, é inegável que seu texto acaba revelando suas opiniões políticas.
Neste ponto, foi mais audaciosa que Banville, que se resumiu a falar que política e literatura não devem se misturar. A única obrigação da arte é ser arte, e é isso o que eu faço.
Neste ponto, foi mais audaciosa que Banville, que se resumiu a falar que política e literatura não devem se misturar. A única obrigação da arte é ser arte, e é isso o que eu faço.
Banville, por sua vez, sempre bebericando um copo de cachaça, esbanjou ironia e bom humor. Como todo irlandês, não poderia passar sem falar em Beckett e Joyce. Seus romances são mais conhecidos - li Os Infinitos, mas não O Mar, considerado por muitos o seu melhor momento. Aproveitei para comprar Luz Antiga, que foi lançado no Brasil em Paraty, e que em breve estará por aqui na biblioteca.
Banville se apresenta como autor europeu - e não irlandês. Segundo ele, isso lhe causa alguns problemas na Irlanda, o que é fácil de imaginar conhecendo o Brasil. E é como autor europeu que aguardo sua fase como editor e organizador da Best European Fiction a partir de 2014, no lugar de Hemon.
Banville se apresenta como autor europeu - e não irlandês. Segundo ele, isso lhe causa alguns problemas na Irlanda, o que é fácil de imaginar conhecendo o Brasil. E é como autor europeu que aguardo sua fase como editor e organizador da Best European Fiction a partir de 2014, no lugar de Hemon.
Simplesmente espetacular, capaz de prender a atenção de todo o tipo de público!! A mesa transcorreu como uma agradável conversa entre amigos, exceto pela interpelação indelicada do mediador, logo de início. Na mesa de autógrafos, os dois escritores se mostraram muito solícitos, sendo que Lydia esbanjou simpatia, ouvindo com atenção a todos que ali estavam.
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