Falávamos então do espantoso parentesco entre a sua América Latina e a minha pequena Europa Central, as duas partes do mundo igualmente marcadas pela memória histórica do barroco que torna um escritor hipersensível à sedução da imaginação fantástica, feérica, onírica, E o outro ponto comum: nossas duas partes do mundo desempenharam um papel decisivo na evolução do romance do século XX, do romance moderno, digamos, pós-proustiano: de início, durante os anos 1910, 1920, 1930, graças à plêiade de grandes romancistas da minha parte da Europa: Kafka, Musil, Broch, Gombrowicz (...) depois, durante os anos 1950, 1960, 1970, graças a uma outra grande plêiade que, em sua parte do mundo, continuava a transformar a estética do romance: Juan Rulfo, Carpentier, Sabato, depois você e seus amigos...
Milan Kundera - O Arquirromance, carta aberta pelo aniversário de Carlos Fuentes. In: Um Encontro: ensaios, traduzido por Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. Companhia das Letras, 2013
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