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Mostrando postagens de junho, 2012

Conto da semana, de Bernard Quiriny

Bernard Quiriny (1978) é um escritor belga cujos contos reunidos no volume Contos Carnívoros chamaram a atenção dos europeus. Ele também é professor de direito e filosofia. A versão abaixo é da edição portuguesa (Ahab, 2011). Voltaremos a ele em breve.  A impaciência de Pierre Gould não tem limites. No dia em que, sendo jovem, decidiu que seria escritor, começou por redigir uma nota testamentária para legar os seus futuros manuscritos à Biblioteca Nacional. No dia seguinte, andava pela cidade à procura de tradutores. No terceiro dia, registava duzentos títulos no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual. No quarto, telefonava aos jornalistas para garantir boas críticas. E dez anos mais tarde, evidentemente, continuava sem ter escrito uma palavra . E outro, com o mesmo e incrível personagem Pierre Gould: Pierre Gould escreveu um romance intitulado Histórias de um Adormecido, que era, no seu dizer, o lipograma mais restritivo do mundo: proibira-se o uso de todas as letr

A Virada, de Stephen Greenblatt

Pela Companhia das Letras, A Virada, de Stephen Greenblatt, que comentamos  aqui.

O Diabo Mesquinho

O Diabo Mesquinho Fiodor Sologub Editora Kalinka, 2008 384 páginas Depois da missa de domingo os paroquianos dispersaram-se para voltar às suas casas. Alguns pararam diante do muro da igreja, atrás das paredes brancas de pedra, sob as velhas tílias e os bordos, e ficaram conversando. Todos estavam arrumados para o domingo e se entreolhavam afavelmente, e parecia que nesta cidade se vivia em paz e amizade. E até com alegria. Mas isso apenas parecia. Peredónov, professor do ginásio, conversava numa roda de amigos - com os olhinhos inchados por atrás dos óculos de armação dourada, ele olhava sombriamente para os seus interlocutores e dizia: - A própria princesa Voltchanskaia prometeu à Vária, isso já é certo. "Assim que se casarem", disse ela, "consigo de imediato um cargo de inspetor para ele". Voltando aos russos, depois de Guerra e Paz... Fiodor Sologub (1863-1927) foi apresentado ao leitor brasileiro em 2008, na estreia da editora Kalinka,

Aniversário de Machado de Assis

Hoje, 21 de junho, é aniversário de Machado de Assis (1839-1908). Massacrado nas escolas (por que obrigar o sujeito a ler Helena aos 14 anos de idade? Por que não começar com seus contos para depois chegar aos romances?), embranquecido no comercial da Caixa Econômica, mas sem dúvida o maior de todos os nossos escritores. Parabéns.

14 Pequenas Histórias, de Peter Adolphsen

Na BEF 2011 (A. Hemon) surgem as 14 Pequenas Histórias, do dinamarquês Peter Adolphsen. As histórias foram extraídas, por sua vez, de duas coletâneas anteriores (Pequenas Histórias e Pequenas Histórias,2). No Relatório sobre a língua Gitii, é quase imediata a lembrança de Tlön, Uqbar, Orbis Tertius. Se o argentino descobre um planeta numa enciclopedia secreta, aqui Adolphsen também "descobre" um idioma "desaparecido" entre os séculos 17 e 18 - uma língua com apenas uma vogal, e cujos falantes se comunicam apenas e exclusivamente com verbos. Um povo que via o mundo em verbos e, consequentemente, em ações. Evidentemente, a língua foi descrita por um missionário, Bartolomeo Jimenez Ribero...  Em outra destas histórias, há cerca de 2 bilhões de anos, seres inteligentes que não possuíam corpos, consistindo em nuvens de gás controladas pelas mentes, que unidas formavam a memória coletiva. Chegaram na Terra no Cretáceo e são seduzidos pelo universo táctil - e

Happy Bloomsday

Aqui, a programação do Bloomsday 2012 em Belo Horizonte.

O sentido de um fim, de Julian Barnes

Saiu a edição brasileira, pela Rocco, do livro de Julian Barnes que comentamos  aqui.

Mickey Mouse, de Karl Taro Greenfeld

Karl Taro Greenfeld apareceu na TV brasileira pela primeira vez com cerca de treze anos, numa reportagem do ainda apresentador Helio Costa. Ele lia um poema que escreveu para Noah, seu irmão autista. Anos depois, e com uma carreira jornalística e literária bem consolidada, o americano nos oferece o conto Mickey Mouse. Está na edição de 2012 da antologia O. Henry Prize Stories. Ohta é um professor universitário de pintura e desenho no Japão, durante a Segunda Guerra. Sua carreira anda de mal a pior, já que a revista que publicou a maior parte dos seus trabalhos foi fechada – o problema de ser muito liberal e especializada em arte em tempos de guerra total... Seu antigo colega, Kunugi, determinou o seu fechamento. Devido ao seu talento, recebe, do próprio Kunugi, a missão de criar um personagem capaz de superar em popularidade ninguém menos que o Mickey. Um Mickey Mouse japonês, capaz de vencer o inimigo da nação, o camundongo americano. Mas Ohta nunca entendeu a razão

A Fonte das Mulheres, de Radu Mihaileanu

Na locadora - salvo engano, o filme não circulou nos cinemas do Brasil ou, ao menos, em Belo Horizonte - mais um filme do franco-romeno Radu Mihaileanu: A Fonte das Mulheres (2010).  Ao contrário dos dois filmes anteriores, os excelentes  Trem da Vida  e  O Concerto , aqui o humor é usado com moderação - o que não significa que não apareça, mas sempre de forma mais sutil. Uma greve de sexo, como em Lisístrata, de Aristófanes (como o próprio diretor afirmou em várias entrevistas) mas não para que os homens parem a guerra. O que elas querem é que os homens de uma pequena aldeia no norte da África se mexam e as ajudem a buscar água nas montanhas. As mulheres fazem isso à séculos, dizem todos. No trajeto, sofrem acidentes, perdem filhos ainda em gestação. Os homens, se antigamente viviam em guerras, hoje ficam no bar, conversando, bebendo e fumando. Até que Leila (Leila Bekhti) resolve dar um basta à situação e propõe o movimento grevista. Há momentos bem cômicos. No

Conto da semana, de Cosmin Manolache

O conto da semana é do romeno Cosmin Manolache (1973) e consta da BEF2010. Three Hundred Cups - 300 razões bastante humanas para se brindar. O narrador passeia por Bucareste - a Catedral do Patriarca e as relíquias de São Demétrio o Novo. E divaga sobre os grandes herois nacionais: para ele, é somente através dos livros escolares que eles escapam da vida após a morte. E chega ao Museu Militar, infestado de estátuas desses personagens históricos. Ele é bastante cético em relação à sua condição social e as reações que ela provocaria diante desses romenos ilustres: O que diria o Rei Burebista da Dácia quando o visse? De onde esse vira-lata veio? Fora daqui! Você é indigno da grande história que eu fundei! Manolache é irônico diante desse panteão: certamente ele não gostaria de ver que, por um bom tempo, estive de pé na mesma fila de Santo Estevão o Grande, Radu o Belo, São Constantino Brancoveanu e os Irmãos Cantemir, todos eles, durante suas vidas, jamais perderam uma

Ray Bradbury (1920-2012)

Como ele bem dizia, não é necessário acabar com os livros para acabar com uma cultura. Basta não lê-los.

Príncipe das Astúrias 2012 para Philip Roth

Se a Academia Sueca continua a ignorar Philip Roth, além de outros escritores americanos, os espanhois acabam de homenageá-lo. Veja  aqui.

Ariano Suassuna é o candidato "oficial" ao Nobel

O Senado indicou Ariano Suassuna como o candidato "oficial" do Brasil ao Nobel de Literatura. Veja  aqui  e  aqui.  O "oficial" fica por conta da chancela do Senado, e não tem qualquer significado para a Academia. Apesar disso, fica a torcida. De Suassuna li Auto da Compadecida, O Santo e a Porca e O Casamento Suspeitoso,  ainda no colégio.

Conto da semana, de Samanta Schweblin

A argentina Samanta Schweblin (1978) foi publicada pela primeira vez no Brasil pela editora Benvirá (tradução de Joca Reiners Terron). Se não me falha a memória, o lançamento foi na Bienal Internacional de Brasília. Um dos contos que integram o volume Pássaros na Boca foi publicado, em outubro de 2010, no site Words Without Borders , em seu número especial sobre as novas vozes da literatura argentina.  Em Conservas, a autora   desenvolve um conto fantástico, ao mesmo tempo em que quebra uma ideia idílica da maternidade. Teresinha, grávida, está bastante insegura; as questões que a atormentam não são muito originais: Manuel, seu marido, a sogra, os preparativos para a chegada do bebê... Ela não está nada feliz com a situação e suas perspectivas são bastante negativas. Mas Schweblin consegue esconder do leitor, com eficiência, a real intenção de Teresinha - afinal, ela quer ou não o filho? E todos nós somos levados a pensar na sua preocupação com uma gravidez tranquila e

Digerindo Penas, de Flavio Aquistapace

Digerindo Penas Flavio Aquistapace Editora Patuá, 2012 Ao adquirir uma grave doença, um câncer, por exemplo, sem saber ao certo sua extensão e nem mesmo se ele o torna um paciente terminal, embora tudo paulatinamente indique que sim, confinando-o lentamente entre hipóteses tão mais absurdas porque mais palpáveis e concretas, subitamente, você se vê submetido a uma obsessão, uma loucura pela cura. Nada mais interessa em sua vida e, todo o seu tempo é, de uma hora para a outra, reordenado e regido na sua pulsão maior pelo corpo íntegro, distinto do que o ataca, o defenestra, despedaça. (p. 14-15) Uma obra de difícil classificação é Digerindo Penas,  de Flavio Aquistapace, pela Editora Patuá, parceira da Biblioteca. Sim, um romance. Mas não um romance convencional. Com referências a Kafka, Pessoa e Buber, entre outros, o autor passa rapidamente do romance para o teatro, o conto, a poesia e mesmo a correspondência, construindo uma obra altamente fragmentária e si