No
princípio do século V, são Jerônimo, tradutor da Bíblia, desenvolveu um sistema
conhecido, conhecido como per cola et commata, no qual cada
unidade de sentido era marcada com uma letra que sobressaía da margem, como se
iniciasse um novo parágrafo. Três séculos mais tarde já se utilizava o punctus
tanto para indicar uma pausa dentro da
oração quanto para assinalar sua conclusão. Seguindo essas convenções confusas,
os autores dificilmente podiam esperar que seu público lesse um texto com o
sentido que eles tinham pretendido conferir-lhe.
Até que,
em 1566, Aldo Manuzio, o Jovem, neto do grande impressor veneziano a quem
devemos a invenção do livro de bolso, defini o ponto em seu manual de
pontuação, o Interpungendi
ratio. Ali, com seu claro e inequívoco
latim, Manuzio descreve pela primeira vez seu papel e seu aspecto definitivos. Ele
pensou que estava preparando um manual para tipógrafos; não podia saber que
oferecia a nós, futuros leitores, os dons do sentido e da música para toda a
literatura posterior: Hemingway e seus staccatos, Beckett e seus recitativos, Proust e seu longo sustenido.
Alberto Manguel, À Mesa com o Chapeleiro Maluco. Traduzido
por Josely Vianna Baptista.
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