FAUSTO
Ouve-mos
ler então: “Nos termos seguintes: primeiro, que Fausto haja de ser um espírito
em forma e substância; segundo, que Mefistófeles o sirva e esteja às suas
ordens; terceiro, que faça e lhe traga tudo quanto deseje; quarto, que se
conserve em seus aposentos ou em sua casa, mas invisível; último, que apareça
ao dito João Fausto todas as vezes e sob todas as formas e aspectos que este
deseje. Eu, João Fausto, de Wertenberg, doutor, dou pelo presente, tanto o
corpo como a alma a Lucifer, príncipe do Oriente, e a seu ministro
Mefistófeles; e mais lhe concedo, expirado o prazo de 24 anos, e mantidos os
artigos acima indicados sem violação, plenos poderes para virem buscar e levar
o dito João Fausto, corpo e alma, carne, sangue e bens, para a sua habitação,
onde quer que ela seja. Eu, João Fausto (p. 60-61).
Consta que a primeira obra literária
a respeito surgiu em meados do século XVI, na Alemanha – Historia von D. Johann Fausten – e que o personagem teria sido um
médico em Wittenberg, famosa cidade universitária onde Lutero ensinou.
Em geral, temos mais referências
do Fausto de Goethe, mas é de Christopher Marlowe, The Tragical History of Life and Death of Doctor Faust, publicado
em 1604. A Editora Hedra, parceira da Biblioteca, publicou este ano a versão
traduzida por A. de Oliveira Cabral. Até onde eu sei, o único filme feito a partir de Marlowe é de 1967, dirigido por Richard Burton (e que não vi).
O Fausto de Marlowe,
contemporâneo de Shakespeare, assina o pacto com seu sangue, depois de
apresentar algumas dúvidas. Passará os próximos 24 anos visitando o Papa, a corte lhe observar/ Na festa de São Pedro
tomar parte. Fausto se diverte pregando peças. Visita o Imperador do Sacro
Império Romano, a quem apresenta ninguém menos que Alexandre Magno. Outro
momento interessante é o da apresentação dos Sete Pecados Mortais.
Mas á medida que o tempo se
esvai, volta a se angustiar com o pacto. Pede possuir Helena de Troia – Foi este o rosto que lançou no mar mil
barcos. E, quando o Diabo vem cobrar o que lhe é devido (Estás condenado, Fausto. Desespera e morre!/
O Inferno reclama os seus direitos) e pede clemência:
Ah!
Fausto,
De vida,
uma só hora agora tens,
E então
estarás perdido eternamente!
Parai,
esferas do Céu sempre moventes,
Cesse o
tempo e não chegue a meia-noite
E, à meia-noite:
Soou!
Soou! Corpor, desfaz-te em ar,
Ou
Lucifer te arrasta para o Inferno...
(Trovões e relâmpagos)
Oh, alma,
torna-te em gotinhas de água,
E cai no
mar, pra não ser’s mais achada”
(Entram diabos)
Meu Deus!
Meu Deus! Não me olheis tão ferozes!...
Cobras,
serpentes: que eu respire um pouco!;;;
Fecha-te,
Inferno! Lúcifer, não venhas!...
Eu queimo
os livros...ah...ah!...Mefistófeles!...
(Saem os diabos com FAUSTO).
O Fausto de Marlowe não tem a
sorte do Fausto de Goethe, que acaba tendo sua alma salva.
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