Medida contra a violência, de
Bertolt Brecht. Integra O Melhor do Conto
Alemão no Século 20, organizado por Rolf Renner e Marcelo Backes (o
tradutor). L&PM.
Certo dia
o senhor Keuner, o Pensante, se pronunciava contra a violência num auditório;
de repente, percebeu que as pessoas se distanciavam dele e, por fim, se
afastavam. Olhou em torno e viu parada atrás de si... a violência.
- O que
tu disseste? – perguntou-lhe a violência.
- Eu me
pronunciava a favor da violência – respondeu o senhor Keuner.
Quando o
senhor Keuner foi embora, seus alunos lhe perguntaram por que dobrara a
espinha. O senhor Keuner respondeu:
- Eu não tenho
espinha dorsal para vê-la destroçada. Justamente alguém como eu precisa viver
mais tempo do que a violência.
E o
senhor K contou a seguinte história:
À casa do
senhor Egge, aquele que aprendeu a dizer não, chegou certo dia no tempo da
ilegalidade, um agente exibindo um certificado expedido em nome daqueles que
dominavam a cidade e dizendo que lhe pertencia toda a casa em que pusesse os
pés; da mesma forma, pertencia-lhe toda a comida que ele pedisse; da mesma
forma, deveria servi-lo todo homem que ele visse.
O agente
sentou-se numa cadeira, pediu comida, lavou-se, deitou-se e perguntou, com o
rosto virado para a parede, antes de adormecer:
- Tu vais
me servir?
O senhor
Egge cobriu-o com uma coberta, espantou as moscas em volta dele, vigiou seu
sono e, assim como nesse dia, obedeceu ao longo de sete anos. Mas, se fazia
tudo pelo agente, uma coisa guardou-se de fazer: dizer uma palavra que fosse. Quando
se passaram os sete anos e o agente já engordara de tanto comer, dormir e
mandar, o agente acabou morrendo. O senhor Egge enrolou-o em sua coberta
deteriorada, arrastou-o para fora da casa, lavou a sala, caiou as paredes,
suspirou e enfim respondeu:
- Não.
Muito sugestivo!
ResponderExcluirAproveito para retomar minha homenagem semanal ao mestre.