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As Fantasias de Pronek, de Aleksandar Hemon


Traduzido por Roberto Grey

Editora Rocco
2009
232 páginas

Jozef Pronek nasceu na maternidade de Sarajevo a 10 de setembro de 1967, depois de um excruciante trabalho de parto de 37 horas, cujo apogeu foi o juramento de sua mãe, quando a cabecinha de Jozef estava encalhada entre suas pernas, a meio caminho do mundo, de que ela o estrangularia com suas próprias mãos se ele não saísse imediatamente. Sua mãe se arrependeu da ameaça assim que viu sua cara amassada, dominada por uma boca que berrava, como num quadro expressionista. No seu delírio, ela achou-a extraordinariamente bela.

Foi a mesma cara expressionista exibida para o pai de Jozef, que estava do lado de fora, no ensolarado parque da maternidade, apinhado de pais embriagados. Pronek Senior conseguiu ficar de pé, apoiado por seu amigo Dusko, com quem ele comemorava a chegada de seu filho neste triste mundo. Ao ver seu rosto furioso e amarrotado, o pai comparou-o, num momento de grande inspiração, ao notório Tshombe, o homem que matara Patrice Lumumba. Dusko, por outro lado, descobriu que o recém-nascido Jozef se parecia com Mahatma Gandhi, talvez em virtude de uma tira de gaze amarrada em torno de seu tórax diminuto. Da parte do pequeno Jozef, tudo de que se lembra (coisa que continua insistindo em afirmar) daquele dia – o primeiro de uma série ainda inconclusa de dias que constitui a vida – foi um pavoroso dilúvio de luz ofuscante que chegou até ele através da vidraça da janela, como se a primeira coisa que tivesse visto fosse uma explosão atômica. (p. 35)

Aleksandar Hemon nasceu na Bósnia e desde 1992 vive nos Estados Unidos. Estava na América para um congresso quando estourou a Guerra da Bósnia, viu-se impedido de retornar ao seu país - numa entrevista, disse que simplesmente por não querer morrer, tendo sofrido por muito tempo de culpa por ter sobrevivido quando tantos morreram. Desde então vive em Chicago. Sempre que se fala em Hemon, lembra-se de outros escritores estrangeiros que adotaram o inglês como língua de expressão – Conrad e Nabokov (que ele afirma ser um de seus autores favoritos). A comparação é inevitável.
  
O domínio que Hemon tem da língua inglesa é muito superior ao de Pronek, que vive falando errado e se irritando com as constantes correções. Mas a sensação de não pertencer a lugar algum é clara – como quando um sérvio, ao saber que ele é bósnio, lhe pergunta: sérvio ou muçulmano, ao que responde – sou complicado. 

O narrador o reconhece numa visita por um emprego numa escola de línguas – Pronek está numa classe falando sobre um texto sobre irmãos siameses. Imediatamente, recorda-se de conhecê-lo – e passa a narrar a sua história, de sua infância em Sarajevo, passando pelo seu encontro com Bush (pai) em Kiev (que o confunde com um ucranian – Pronek ainda responde que aquele não é o seu país; que ele é da Bósnia, mas não adiantou...), a militância no Greenpeace e Chicago, trabalhando para um detetive particular.

A semelhança com a própria biografia já levou a várias referências ao romance como autobiográfico, uma "autobiografia em terceira pessoa", algo que Hemon sempre nega - no máximo, diz, uma biografia paralela, algo que ele poderia ter sido, mas definitivamente não foi.

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