Pular para o conteúdo principal

Homem Irracional (2015), de Woody Allen






O último filme de Woody Allen tem algo de irônico: o Homem irracional é justamente um professor universitário de filosofia cético e depressivo - Abe (Joaquin Phoenix). Suas aulas são recheadas de Kant, Sartre, Kierkegaad e, claro, para segurar o rojão, doses cavalares de whisky. A aluna Jill (Emma Stone), apesar de estar namorando um outro estudante, fica imediatamente atraída pelo professor, que se mostra resistente às investidas.

O momento chave está num restaurante, quando Abe e Jill escutam uma pobre mãe aflita com a possibilidade de perder a guarda do filho para o ex-marido. A culpa seria do detestável juiz Spangler (Tom Kemp). Um sujeito capaz de estragar o mundo à sua volta. 

A irracionalidade surge quando ele se atribui a missão de um Raskolnikov, fazendo justiça com as próprias mãos. Ao decidir por essa trilha, encontra uma razão de viver e seu mundo passa a ser colorido: finalmente se entrega a Jill , passa a ver graça nas coisas, volta à vida social, enfim, acha-se útil novamente.

O desfecho é próprio do diretor. E, aqui, o que vem imediatamente à lembrança é Match Point. Um plano aparentemente perfeito começa a fazer água por detalhes e revelações. Não se trata de uma comédia - nada dostoievskiano pode ser uma comédia.

Comentários

  1. Por indicacao da biblioteca,vou ver hoje

    ResponderExcluir
  2. Do enredo dostoyewskyano a forma o.henryana, se assim pode-se dizer. WA continua ótimo, embora faça mais do mesmo. O Metascore (do IMDB) baixou o cacete no filme. Mas que foram quase 90 minutos de satisfação, isso é certo. E.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa

A Magna Carta, o Rei João e Robin Hood

É claro que o rei João não se ajoelhou aos pés de Robin Hood, mas é interessante lembrar hoje, dia 15 de junho, quando a Magna Carta completa 800 anos, a ligação entre a ficção e a História, na criação do que pode ser considerado o mais importante documento da democracia. João Sem-Terra. John Lackland. Nasceu em Oxford, 1166, o quarto filho de Henrique II, o que lhe custou toda possibilidade de receber uma herança - daí seu apelido. Quando o irmão Ricardo (Coração de Leão) assume o trono, em 1189, recebe mais um golpe e, obviamente, irá fazer de tudo para tomar o poder. Em 1199, Ricardo é morto e João, finalmente, torna-se rei. Para custear as guerras, Ricardo aumentou drasticamente os impostos a um nível inédito na Inglaterra. Para piorar, ao retornar de uma Cruzada, foi feito prisioneiro dos alemães. Há quem diga que o resgate cobrado (e pago) seria equivalente a 2 bilhões de libras. Na época de João, o cofre estava vazio, mas as demandas, explodindo como n