O conto da semana é de Heinrich von Kleist (1777-1811), autor romântico alemão. Está no volume 2 do Mar de Histórias e, de acordo com os antologistas, interessa-nos não só pelo espetáculo das forças desencadeadas da fatalidade e dos desvios da alma coletiva em estado patológico, mas também pelo ambiente sul-americano em que o escritor alemão os faz funcionar.
Sim, já que se tornou o assunto da semana - não só pela intensidade 8,2 graus na escala Richter, como pelo número reduzido de vítimas fatais, demonstrando a seriedade com que lida com a realidade - o conto tinha de ser O Terremoto do Chile.
Kleist conta a história de Jeronimo Rugera e Dona Josefa, filha de D. Henrique. É lógico que os dois tem um caso proibido - ou não estaríamos diante de um texto e autor tipicamente românticos. O mancebo engravida a mulher que estava num convento e é condenado à morte. No dia, porém, a terra se abre e a cidade é devastada pelo terremoto.
A descrição de Kleist sobre os efeitos do tremor é de um detalhamento cinematográfico.
Aqui, o desmoronamento de mais uma casa, com fragmentos a voar de todos o lados, o desviou para uma runa lateral; ali as chamas, rebentando no meio de espessas nuvens de fumaça, saíam pelas janelas e fizeram-no entrar horrorizado em outra rua; adiante, as ondas do Mapocho, transbordando, vinham a rolar sobre ele, e seus uivos o arremessaram numa terceira rua. Aqui, tropeçava num montão de cadáveres; além, um gemido se escapava ainda dos escombros; mais longe, gritos de pessoas empoleiradas num telhado em chamas pediam socorro; homens e animais lutavam com as ondas; um rapaz valente buscava socorrer alguém(..)
Na desgraça, o arrependimento, e Jeronimo e Josefa são brevemente reabilitados, diante da desgraça de todos e das ações heróicas que realizam. Mas, durante a missa celebrada na única igreja que restou de pé, o sermão do dominicano sobre o castigo divino e a necessidade de se corrigir diante de Deus leva a turba a apontá-los como os culpados pela ira divina...
Como fazia parte do roteiro romântico, o autor se matou aos 34 anos.
Comentários
Postar um comentário