O conto da semana vem da Best European Fiction (BEF 2014). Elvis Hadzic (1971) é o autor de O Curioso Caso de Benjamin Zec. Bósnio, vive hoje em Salt Lake City - curiosamente, num movimento similar a Hemon e Mehmedinovic.
Benjamin não gostava de ciências na escola. Disse ao professor que, na verdade, Newton não estava deitado embaixo da famosa árvore, mas em atividade mais, digamos, escatológica, e descobriu a verdadeira força da gravidade. Afinal, maçãs não ficam caindo das árvores por aí... Não gostava de ciências, mas adorava ler. A par disso, era um garoto normal. Queria ser um ator, queria ser um ator na Broadway.
Até decidir se tornar uma joaninha.
No momento em que capturou uma, e a colocou na palma de sua mão, algo violentamente acertou-lhe a nuca. E então Benjamin Zec nunca mais foi visto.
Por onde andava? Ninguém nunca soube; tornou-se uma lenda. Muitos diziam que estava nos Estados Unidos. Sim, ele estava lá, nos palcos da Broadway, aclamado pelas massas. Ele olhava as fotografias na parede do camarim. E aos poucos percebeu que não envelhecia. Como Dorian Gray. Decidiu ler a história de Wilde e, toda vez que o fazia, lia a primeira página, ficava inconsciente e... acordava novamente no palco. Voltava da peça, lia Dorian Gray, adormecia e... acordava no palco. Como um LP com defeito.
Até que um dia acorda não mais no palco, mas num campo aberto, sob o sol do verão.
Bom, o desfecho do conto conduz rapidamente ao evento traumático para toda a Europa - Srebrenica. E aqui, a força da ficção: de uma forma lúdica, poética e sem citar o nome da cidade ou o evento uma única vez, Hadzic escreve em memória das mais de 8 mil vítimas do maior massacre europeu depois de 1945.
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