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Mostrando postagens de março, 2013

Conto da semana, de Gyrdir Elíasson

O conto da semana vem da Best European Fiction deste ano. Gyrdir Elíasson já apareceu por aqui,  revisitando o clássico Farenheit 451 de Ray Bradbury. Desta vez, uma bela e surreal história (A Loja de Música). Todos nos lembramos de autores como Borges, que escreveu contos e "ensaios" sobre livros que jamais existiram fora de sua mente. Elíasson segue esta linha, mas o narrador, que caminhava por uma rua cuja existência até então ignorava, encontra uma curiosa loja - Alladin's Music Store. Uma loja com CDs tão  interessantes como o da 11ª Sinfonia de Beethoven - eu tinha certeza que ele jamais havia composto isso, mas aqui estava, numa bela edição alemã.  Ou um CD do cantor de blues e guitarrista americano Mississipi John Hurt (que morreu em 1966) cantando Neil Young, algo muito improvável... apesar de saber perfeitamente que ele jamais tocou essas canções, e que Neil Young provavelmente nunca sequer as compôs - pelo menos não que eu soubesse. É claro que

O Professor Nabokov

No New York Review of Books, um artigo interessantíssimo. Um professor de literatura que deixa claro, no primeiro dia do curso Literatura europeia no século XIX , que não tem o menor interesse em socializar ou confraternizar com seus alunos - que, aliás, sequer se daria ao trabalho de saber seus nomes - chamava-os pelos seus números. Quem nos conta essa história, real, é o aluno 121. A única regra do professor: ninguém poderia sair da sala, nem mesmo para ir ao banheiro, sem um atestado médico. Seu lema: romances são pura invenção, e o romancista tem como único propósito encantar o autor. Assim, prosseguia, ninguém precisa saber nada de nenhum "contexto histórico" do texto... E o foco era Tolstoi, Gogol, Proust, Joyce, Austen, Kafka, Flaubert e Robert Louis Stevenson. O professor, claro, era Nabokov.

O Livro das Minhas Vidas, de Aleksandar Hemon

Presença constante deste blog, Aleksandar Hemon (1964) é o autor deste livro, na verdade uma reunião de ensaios autobiográficos. E é interessante perceber que sua ficção está, em muitos aspectos, inspirada nestes textos.  A língua inglesa é pródiga em adotar europeus do resto do continente... Nabokov e Conrad são os que me vêm à cabeça. Hemon se junta a eles. É famoso o fato de ele ter aprendido a língua lendo Nabokov. Com um domínio apenas razoável do idioma, estava nos EUA em 1992 quando a situação da Bósnia se agravou - e acabou se radicando em Chicago, onde vive até hoje. Em 1995, escreveu seu primeiro texto em inglês. Nos ensaios, a chegada de sua irmã mais nova e as mudanças em sua vida; seu refúgio para leituras nas montanhas e seu cão, Mek (que foi com a família para o Canadá), seu talento como jogador de futebol (e a importância disso no universo de imigrantes nos Estados Unidos); o enxadrista; o primeiro casamento (com L.) e o segundo, com a também escritor

Conto da semana, de Migo Rollz

O site da Words Without Borders organiza anualmente, sempre em fevereiro, uma edição dedicada à Graphic Novel , gênero ao qual nunca dei muita atenção. No entanto, esta história do autor egípcio Migo Rollz vale uma parada...  A expectativa do encontro entre o personagem principal e seu amigo de escola Tariq, que se mudou, há 30 anos, para o Canadá e agora retorna ao Egito. Ele mal consegue conter sua ansiedade para o seu filho. No entanto...

Livro digital e bibliotecas públicas

A eterna polêmica sobre o Fla-Flu entre livros digitais e livros analógicos. Parece que na Inglaterra e nos Estados Unidos, os e-books estão revitalizando as bibliotecas públicas .

O Livro

Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio são extensões de sua visão; o telefone é a extensão de sua voz; em seguida, temos o arado e a espada, extensões do seu braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação. (...) Fala-se do desaparecimento do livro. Creio que isto é impossível. Dir-se-á: que diferença pode haver entre um livro e um jornal ou um disco? A diferença é que um jornal é lido para ser esquecido; um disco é ouvido, também, para o esquecimento, é algo mecânico e, portanto, fútil. O livro é lido para ficar na memória. Jorge Luis Borges (quem mais?) - Obras Completas, volume IV, Editora Globo, 1999.

The Library of Unborrowed Books

Uma insólita e curiosa exposição em Nova York sobre livros não emprestados pela biblioteca do Center for Fiction.   Na época dos best-sellers, uma singela homenagem aos livros que por alguma razão são ignorados pelos leitores - e entre estes livros há de tudo um pouco, até Dickens (David Cooperfield).

Livros da Rafa - A mina de ouro

Li esse livro há (bem) mais de trinta anos, e foi com muita alegria que descobri que ele ainda faz muito sucesso... Já que nas últimas semanas não estou conseguindo ler como gostaria, eis que Rafaela faz as honras da casa:    O livro "A mina de ouro" nos conta a história de seis crianças e um cachorrinho chamado Samba que vão fazer um piquenique. Elas encontram uma escada antiga e resolvem subi-la. E esta escada acaba sendo uma aventura inesquecível,ao levá-los para uma gruta. A leitura deste livro é ó tima pois as crianças descobrem que a riqueza não e tudo na vida. Recomendo este livro .

Conto da semana, de Leonid Dobytchin

O conto da semana pode ser lido na última edição da  Revista Kalinka . É A Despedida, do russo Leonid Dobytchin (1894-1936), da chamada geração de 1920 (ao lado de Daniil Harms, por exemplo): O inverno estava terminando. Às seis horas, já estava claro. Ao abrir os olhos, Kunst viu as rachaduras do teto, que formavam uma saia e pés tortos em sapatos com duas orelhinhas. Do outro lado da parede, a acompanhante de enfermos já arrastava seus sapatos sem calcanhares e acordava o ferido. A senhora bateu à porta e trouxe a chaleira. - Que indecência - disse ela e apontou a parede com a cabeça. Então se calou para tentar ouvir e riu. Kunst enrubesceu. (...) Na história, são citados ou lidos três jornais - um liberal, um bolchevique e outro conservador.  Uma boa amostra da situação - todos foram fechados em 1917... Os contos do autor não contêm propriamente uma ação; seriam mais cenas da vida cotidiana. Nesta Despedida, os funcionários recebem bonificações (artigos de alimentação)

Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera

Barba ensopada de sangue Daniel Galera Companhia das Letras, 2012 424p. Cadê a caminhonete? Vendi. Por que tem um revólver na mesinha? É uma pistola. Por que tem uma pistola na mesinha? O ruído de uma moto passando na estrada é acompanhado pelos latidos do Bagre, roucos como berros de um fumante inveterado. O pai franze a testa. Não atura esse vira-lata insolente e barulhento e o mantém somente por senso de responsabilidade. Tu pode deixar pra trás um filho, um irmão, um pai, com certeza uma mulher, há circunstâncias em que tudo isso é justificável, mas não tem o direito de deixar pra trás um cachorro depois de cuidar dele por um certo tempo, disse-lhe uma vez quando ainda era criança e a família completa vivia numa casa em Ipanema pela qual passaram meia dúzia de cães. Os cachorros abdicam pra sempre de parte do instinto pra viver com as pessoas e nunca mais podem recuperá-lo por completo. Um cachorro fiel é um animal aleijado. É um pacto que não pode ser desfe

Conto da semana, de Tania Malyarchuk

Este é o segundo conto de Tania Malyarchuk (1983) - no ano passado, li  O Demônio da Fome.  Desta vez, o conto da semana foi gentilmente enviado pela própria autora - Canis Lupus Familiaris. Em inglês, pode ser lido  aqui.   Sim, este é o nome científico do nosso cão. Dois personagens: a funcionária da autoridade habitacional local e  você,  leitor, que tenta resolver um problema: o elevador do seu prédio não funciona já há mais de três meses. E você mora no nono andar.  E você então se dirigie à funcionária do escritório nº 17, a sra. Elvira Volodymyrivna. Sugestivamente, como ficamos sabendo, às vezes ela coloca os óculos, "para ver você melhor"...  Mas você está irritado com a burocracia de sua cidade - e o despeito de Elvira, que te ordena esperar do lado de fora (ainda que não haja ninguém no escritório ou mesmo à sua espera). Seu único alento (lembre-se: a autora, e consequentemente você, está na Ucrânia) é que talvez, dentro de vinte anos, vocês serão admi

Grandes leitores - Capitão Nemo

- Parabéns, capitão. Deve haver aqui no mínimo seis mil volumes. - O senhor está enganado, professor. Existem doze mil. O mundo acabou para mim no dia em que submergi com o Nautilus! Nesse dia comprei os últimos livros e as últimas revistas. Não é preciso dizer que tudo está à sua disposição. Aproximei-me das estantes, depois de haver agradecido com um gesto a cortesia do capitão. Na biblioteca havia muitos livros científicos, de moral e de literatura, escritos em todos os idiomas. Constavam na biblioteca tudo o que o homem produziu de mais belo em matéria de história, poesia, romance e ciência, de Homero a Victor Hugo, de Xenofonte a Michelet, de Rabelais a Madame Sand. Alberto Manguel, sobre a biblioteca de Nemo: em primeiro lugar, não há livros de economia política, posto que nenhuma teoria nesse campo satisfaz seu exigente leitor; em segundo lugar, a classificação dos livros é arbitrária, misturando temas e idiomas sem nenhuma ordem lógica, como se o Capitão le

Dia 4 na Revista Samizdat

Já que todos falam da crise da literatura,  um pequeno texto sobre a literatura da crise - econômica...