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Mostrando postagens de setembro, 2011

Luis López Nieves e o segredo de Colombo

  Alguns historiadores dizem que, em 1491, o frei João Peres de Marchena  contou à rainha Isabel de Castela que Colombo já havia estado nas Índias... isso teria decidido a questão em favor do navegador, e a Espanha acabou patrocinando a “primeira” viagem à América. Será que isso, de fato, ocorreu? Sabe-se que os vikings, por exemplo, já estiveram na América do Norte lá pelo ano 1000. Mas o próprio Colombo teria se antecipado à viagem oficial? O conto da semana é do porto-riquenho Luis López Nieves, e integra a Antologia Pan-Americana organizada por Stéphane Chao. É O Grande Segredo de Cristóvão Colombo. O conto trata dos dias 11 e 12 de outubro de 1492, que mudariam totalmente o curso da História. Nieves inicia o texto de forma bem tradicional; quase uma descrição da viagem – inclusive os horários de diversos acontecimentos. Somente nos últimos três parágrafos, vemos o tal segredo... Ao ver as criaturas que irrompiam de repente na praia, os marinheiros se...

Apostas para Outubro

O site da  Revista Ler , de Portugal, coloca o sírio Adonis no topo das apostas para o Nobel de Literatura de 2011, a ser anunciado em outubro. E você? Quem você indicaria e quem você acha que leva?

O Fantasma e Mário Benedetti

O conto da semana – O dezenove – está na Antologia Pan-Americana, organizada por Stéphane Chao e editada pela Record. Anos depois da redemocratização, o prisioneiro 19 encontra o Capitão Farías, que o supunha morto, atirado de um avião sobre o oceano, prática comum às ditaduras sulamericanas. Evidentemente, o encontro deixa o militar absolutamente atordoado. O 19 não quer dinheiro – mas sim conhecer a família do seu incompetente algoz. Quer conhecer as crianças. - Isso nunca (...) Ora, não me force a assumir uma atitude violente. Não faria bem nem a você nem a mim. - A mim por quê? Não há nada mais violento que entrar no mar como eu entrei. O militar se dá por vencido: ambos vão para a sua casa, para o almoço. Conhece as crianças – a esposa já havia falecido. E, para Faría, aquela presença está ali apenas para assombrá-lo.  Chorando muito, grita-lhe: Fantasma! Ao que o 19 responde: É óbvio, rapaz. Sou um fantasma. Finalmente me convenceu. Agora limp...

Um poema de Luiz Dias Bahia

CENTELHA Mormaço. Congonhas: os anjos da igreja suavam nas cinturas obesas. De pedra-sabão: minha sombra. Pelo passeio íngreme despencavam vogais do meu nome. Beco: janelas nuas, como vento entalhado. Mas era Chopin quem colhia mortes agudas no eco desses ou- vidos idos idos. Ia a rua estreita. Susto - esquina, sentada você corava uma simplicidade vermelha como as entranhas das pétalas pelo chão.  ( Segredos, Editora LGE, Brasília, 2011)

Vem aí - Reynaldo Bessa

Dia 27 será lançado o livro de contos de Reynaldo Bessa, Algarobas Urbanas , pela Editora Patuá. Mais informações, aqui .

HHhH, de Laurent Binet

Há sempre uma explicação politicamente correta para alguma monstruosidade: o sujeito matou 300, mas foi abusado na infância, era pobre, rejeitado ou algo que o valha. Mas o mentor da Solução Final não se enquadra neste modelinho. Heydrich era de boa família, amado pelos pais, tinha amigos, dinheiro, cultura; era violinista, pianista e esgrimista – e resolveu entrar para a História como o carrasco de Praga. HHhH – acrônimo de Himmlers Him heiBt Heydrich (o cérebro de Himmler chama-se Heydrich) -  é o título do primeiro romance de Laurent Binet, que com ele ganhou o Goncourt de estreante em 2010. Jozef Gabcik, eslovaco, e Jan Kubis, tcheco, são os paraquedistas encarregados de assassinar o alemão que, contudo, é o grande personagem do livro. Falar que HHhH é um romance histórico não parece suficiente. Binet vai para uma zona cinzenta entre o ensaio e a ficção. São inúmeras as referências que faz ao longo das mais de 400 páginas – de Kenneth Branagh a Chaplin, de Robe...

O Menino que vendia palavras

No domingo, com as crianças, no Espaço Oi Futuro, em Belo Horizonte, assistimos à peça O Menino que Vendia Palavras, dirigida por Cristina Moura e com Eduardo Moscovis, baseado no premiado livro de Ignácio de Loyola Brandão. Com produção caprichada e bom elenco, assistimos à história de um menino que tinha orgulho do pai, que considerava o mais inteligente do mundo, que sabia de tudo. Seus amigos o invejavam, e sempre que queriam saber o significado de uma palavra, recorriam ao pai do menino. Até que um dia ele resolve “cobrar” pelos significados – troco o significado de gorgolão por uma fotografia de um navio de guerra, pantomina por um chiclete e por aí vai.  E vimos também a decepção do menino ao descobrir o óbvio - que ninguém sabe tudo, nem mesmo seu idolatrado pai... Na peça, as crianças perguntam o significado de outras palavras que lhes dessem na telha. Ao final, elas são convidadas ao palco para ler livros infantis. Livro e peça feitos para crianças, tratadas com...

Conto da semana - Pablo de Santis

O conto da semana foi tirado do blog  do escritor argentino Eduardo Berti – que será um dos próximos a aparecer por aqui. É um microconto de Pablo de Santis, e integra seu livro Rey Secreto. De Santis fala no blog da  Revista Microrrelatos  sobre essa forma de conto. Napoleón conocía el nombre de cada uno de los soldados de su ejercito. Una mañana vio a veite metros sobre la nieve a uno de sus hombres. Era un oficial de caballería. Intentó recordar su nombre, pero su memoria le falló. Al instante, uma bala enemiga se hundió en el pecho del oficial. Napoleón comprendió de inmediato la razón de su olvido.

La Règle du Jeu (1939), de Jean Renoir

André Jurieux (Roland Toutain) é um aviador que acaba de bater um recorde de travessia atlântica, ainda que quase dez anos depois de Linderbergh; ao ser entrevistado, a primeira coisa que diz é que nada daquilo valeu a pena – Christine não estava lá para recebê-lo. O problema é que Christine (Nora Gregor) é a esposa do Marquês de la Cheyniest (Marcel Dario). Não que seja uma surpresa para o marquês – o casal está em casa, ouvindo a cobertura da chegada de André pelo radio e isso fica bem claro – de forma jocosa, inclusive. Octave (o próprio Renoir) é o melhor amigo de André, e também disputa Christine - tem a grande vantagem de flanar habilmente entre a criadagem e os patrões. É, na verdade, o grande personagem do filme... O marquês resolve convidar ilustres membros da sociedade para um fim de semana de caça – e obviamente convida André. E a partir daí o filme se mostra pesadamente crítico em relação à sociedade francesa (não à toa, foi proibido pela censura militar francesa – a g...

Iulian Ciocan: A Escrava Isaura em Chisinau

O conto da semana integra a coletânea Best European Fiction 2011. Iulian Ciocan traz uma curiosa história chamada Auntie Frosea. Na Moldávia no final dos anos 80 as mudanças políticas são traduzidas pelas... novelas brasileiras! Frosea não perde por nada um único capítulo de sua A Escrava Isaura , o grande sucesso da TV soviética. Desde o outono de 1988, quando estreou, sua vida mudou completamente – a começar, pela sua dor de dentes, que simplesmente desapareceu. Para ela, a novela traz uma paisagem colorida – em contraposição ao cinza de seu país – e uma realidade triste – afinal, há escravos no Brasil. Em Chisinau, a vida pode ser cinza, como o prédio em que mora, um daqueles monstruosos blocos de apartamentos construídos nos anos 50, mas, certamente, não há escravidão... Pobre Isaura, repete. Sua amiga, Olga, não é tão deslumbrada – para que serve uma liberdade que não me permite ir além do Kosovo, provoca. Não tenho dinheiro para ir ao Brasil e, se tivesse, as autoridades não...

A Verdadeira Vida de Sebastian Knight, de Vladimir Nabokov

The Real Life of Sebastian Knight Tradução de José Rubens Siqueira Editora Objetiva/Alfaguara, 195 páginas 2010 Posso, portanto, declarar que a manhã do nascimento de Sebastian foi uma bela manhã sem vento, com doze graus (Reaumur) abaixo de zero... isso é tudo, porém, que a boa dama achou digno de registrar. Pensando melhor, não consigo ver nenhuma necessidade de concordar com seu anonimato. Parece loucamente impossível que ela algum dia venha a ler este livro. Seu nome era e é Olga Olegovna Orlova – uma aliteração ovóide que seria uma pena esconder. Seu relato tão seco não consegue transmitir para o leitor não viajado as delícias implícitas num dia tal como ela descreve em São Petersburgo ; a pura luxúria de um céu sem nuvens destinado não a aquecer a carne, mas exclusivamente ao prazer dos olhos ( página 7) Stanislaw Lem escreveu um livro (que não li) chamado Vácuo Perfeito , uma coletânea de resenhas de livros que jamais foram escritos. Jorge Luis Borges, em Fi...

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei...

As Fantasias de Pronek, de Aleksandar Hemon

Traduzido por Roberto Grey Editora Rocco 2009 232 páginas Jozef Pronek nasceu na maternidade de Sarajevo a 10 de setembro de 1967, depois de um excruciante trabalho de parto de 37 horas, cujo apogeu foi o juramento de sua mãe, quando a cabecinha de Jozef estava encalhada entre suas pernas, a meio caminho do mundo, de que ela o estrangularia com suas próprias mãos se ele não saísse imediatamente. Sua mãe se arrependeu da ameaça assim que viu sua cara amassada, dominada por uma boca que berrava, como num quadro expressionista. No seu delírio, ela achou-a extraordinariamente bela. Foi a mesma cara expressionista exibida para o pai de Jozef, que estava do lado de fora, no ensolarado parque da maternidade, apinhado de pais embriagados. Pronek Senior conseguiu ficar de pé, apoiado por seu amigo Dusko, com quem ele comemorava a chegada de seu filho neste triste mundo. Ao ver seu rosto furioso e amarrotado, o pai comparou-o, num momento de grande inspiração, ao notór...