A aventura narrada nesta cena passou-se em fins de novembro de 1809, momento em que o fugaz império de Napoleão atingia o apogeu de seu esplendor. As fanfarras da vitória de Wagram ecoavam ainda no coração da monarquia austríaca.
Não se engane. Balzac não deixa isso passar em vão:
Naquele tempo os corações eram nômades como os regimentos. De um primeiro a um quinto boletim do Grande Exército, uma mulher podia ser sucessivamente amante, esposa, mãe e viúva. Seria a perspectiva de uma viuvez próxima, de uma dotação ou a esperança de usar um nome destinado à história que tornaram os militares tão sedutores para as mulheres?
Neste pequeno texto, Balzac nos coloca dentro de um dos grandes bailes do Império e nos apresenta ao conde de Soulanges, cortejando (oh, adorável século XIX) a Mme. Vaudremont que, por sua vez, parece mais afeiçoada a Marcial. Este, por sua vez, não tira os olhos de uma desconhecida mulher de azul. Aposta com o coronel Montcornet que conseguiria tirar a enigmática dama para dançar.
Seu êxito, no entanto, traz algumas consequências: a mulher pede-lhe o anel que o coronel trazia em seu dedo, no que foi atendida. Mas quem é a mulher?
- Marcial - disse severamente a condessa - é a sra. de Soulanges, e seu marido lhe faria saltar os miolos, se é que o senhor ainda os tem.
A mulher é a condessa de Soulanges - seu marido roubara-lhe aquela mesma joia e a entregou à Mme. Vaudremont - que o deu a Marcial. A Marcial a mulher responde - os diamantes me pertencem! para o espanto do já desolado par.
Por trás de tudo e todos, a ardilosa Mme. de Lansac.
Ao encontrar o marido, a condessa de Soulanges - que descobrimos chamar-se Hortênsia - comenta o fato de haver achado o diamante, "que tu me dizias perdido"...
Não acredito que Nelson Rodrigues não tenha lido esta A paz conjugal.
Um dos menores - e certamente dos melhores - trabalhos de Balzac até agora, já ao final do segundo volume da edição organizada pelo Paulo Rónai.
Um dos menores - e certamente dos melhores - trabalhos de Balzac até agora, já ao final do segundo volume da edição organizada pelo Paulo Rónai.
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