David Lurie é um bôer perdido na África. Como nos conta o próprio narrador, Ele fala italiano, fala francês, mas italiano e francês de nada valem na África negra. Está desamparado, um alvo fácil. A África do Sul de Desonra é pós-apartheid (o livro é de 1999, menos de dez anos após o fim do regime).
Um mundo estranho para David, professor de literatura, nada empolgado na Universidade (que já não se interessa pelo seu cultuado Byron. Sua vida é bem, digamos, metódica, o que inclui seus encontros com uma prostituta, Soraya.
Na universidade, envolve-se com uma aluna, Melanie. Força bastante a barra, consegue-a mas o envolvimento (consentido) não escapa aos pais da moça e o colegiado. A partir daí, David é tragado pelo momento em que vivemos: é chamado a se arrepender publicamente, mas o faz de forma a não parecer "verdadeiramente arrependido" e a Inquisição universitária não o perdoa.
Impossível não se lembrar de Coleman Silk, infeliz professor universitário que se refere a um aluno faltoso como faltoso, mas é interpretado como racista. O escândalo o leva a deixar a universidade (e a perder a mulher, que morre de desgosto). E a máquina inquisitorial do politicamente correto irá passar seu rolo compressor. A marca humana, de Philip Roth aborda um momento peculiar da história dos EUA: o quase impeachment de Clinton, durante o caso Monica Levinsky (a marca humana, aliás, foi deixada por ele no vestido dela...). Roth e Coetzee mostram a condenação de professores pelas universidades e o seu degredo da vida intelectual urbana.
Afastado da universidade, resolve morar com a filha Lucy, que vive numa fazenda. Não se dá muito bem com o pai, além de ser homossexual. David não se adapta àquela vida. É o colonizador branco (sua filha sente a culpa dos que a antecederam). Petrus é o negro colonizado - a quem se espera que David peça desculpas por tudo. É a classe C da África do Sul pós-apartheid.
Isso parece ficar mais evidente no episódio em que três negros atacam pai e filha. A relutância da filha, que, afinal, foi estuprada, em denunciá-los exaspera por completo David. E aí se percebe novamente a questão da culpa: Um dos bandidos, Pollux, é conhecido de Petrus, que lhe garante proteção.
Os professores não se conformam com a falta de interesse de David em se defender na Universidade - ela teria o direito de exigir o seu arrependimento? David também não aceita a resignação de Lucy após o incidente. Ele não consegue sobreviver - não se adapta ao mundo intelectual universitário mas também não consegue se ajustar ao mundo em que o homem branco já não tem qualquer papel relevante, no interior do país. Quem pode garantir a segurança de Lucy naquele deserto é justamente Petrus, e não sabemos o que é pior: a proposta deste, a aceitação (resignação) de Lucy ou a lógica por trás de toda essa argumentação...
Um pária; um fracasso como homem, como professor, como pai e como cidadão da nova África. Resta-lhe então viver com Bev (com quem tem outro caso) dedicando-se a sacrificar cães. Um grande fracassado. Uma grande desonra.
Um mundo estranho para David, professor de literatura, nada empolgado na Universidade (que já não se interessa pelo seu cultuado Byron. Sua vida é bem, digamos, metódica, o que inclui seus encontros com uma prostituta, Soraya.
Na universidade, envolve-se com uma aluna, Melanie. Força bastante a barra, consegue-a mas o envolvimento (consentido) não escapa aos pais da moça e o colegiado. A partir daí, David é tragado pelo momento em que vivemos: é chamado a se arrepender publicamente, mas o faz de forma a não parecer "verdadeiramente arrependido" e a Inquisição universitária não o perdoa.
Impossível não se lembrar de Coleman Silk, infeliz professor universitário que se refere a um aluno faltoso como faltoso, mas é interpretado como racista. O escândalo o leva a deixar a universidade (e a perder a mulher, que morre de desgosto). E a máquina inquisitorial do politicamente correto irá passar seu rolo compressor. A marca humana, de Philip Roth aborda um momento peculiar da história dos EUA: o quase impeachment de Clinton, durante o caso Monica Levinsky (a marca humana, aliás, foi deixada por ele no vestido dela...). Roth e Coetzee mostram a condenação de professores pelas universidades e o seu degredo da vida intelectual urbana.
Afastado da universidade, resolve morar com a filha Lucy, que vive numa fazenda. Não se dá muito bem com o pai, além de ser homossexual. David não se adapta àquela vida. É o colonizador branco (sua filha sente a culpa dos que a antecederam). Petrus é o negro colonizado - a quem se espera que David peça desculpas por tudo. É a classe C da África do Sul pós-apartheid.
Isso parece ficar mais evidente no episódio em que três negros atacam pai e filha. A relutância da filha, que, afinal, foi estuprada, em denunciá-los exaspera por completo David. E aí se percebe novamente a questão da culpa: Um dos bandidos, Pollux, é conhecido de Petrus, que lhe garante proteção.
Os professores não se conformam com a falta de interesse de David em se defender na Universidade - ela teria o direito de exigir o seu arrependimento? David também não aceita a resignação de Lucy após o incidente. Ele não consegue sobreviver - não se adapta ao mundo intelectual universitário mas também não consegue se ajustar ao mundo em que o homem branco já não tem qualquer papel relevante, no interior do país. Quem pode garantir a segurança de Lucy naquele deserto é justamente Petrus, e não sabemos o que é pior: a proposta deste, a aceitação (resignação) de Lucy ou a lógica por trás de toda essa argumentação...
Um pária; um fracasso como homem, como professor, como pai e como cidadão da nova África. Resta-lhe então viver com Bev (com quem tem outro caso) dedicando-se a sacrificar cães. Um grande fracassado. Uma grande desonra.
Por indicacao da biblioteca, comecei a ler hoje
ResponderExcluirNunca tinha lido o autor. Foi uma descoberta (graças a Biblioteca) e estamos lendo sem-parar. Inclusive numa boa tradução. E.
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