"Ele perdera a magia", é a abertura d' A Humilhação, publicado em 2009. Aos 65 anos, Simon Axler, veterano e consagrado ator de teatro, intérprete de Shakespeare e Tchekov, começa a ficar paralisado no palco e abandona a carreira. Acaba encontrando Pegeen Stapleford (Greta Gerwig), de 40, lésbica (aparentemente, em dúvida), filha de um casal de amigos. Quando criança, era apaixonada pelo famoso ator.
O livro faz parte do último ciclo de Roth - é o seu penúltimo romance, para ser exato. Ao lançá-lo, já tinha terminado Nêmesis.
O filme de Barry Levinson (que dirigiu Rain Man) tem como ponto alto o protagonista - Al Pacino, que adquiriu os direitos para o cinema. Interessou-se pela história da crise - segundo ele, Roth certamente pensou no bloqueio criativo do escritor, e não do ator.
No livro:
O pior era que ele questionava sua queda tal como questionava sua atuação. O sofrimento era terrível, e no entanto ele duvidava que fosse genuíno, o que o tornava ainda pior. Não sabia como ia passar de um minuto para o próximo, tinha a sensação de que sua mente estava derretendo, sentia pavor de ficar sozinho, só conseguia dormir no máximo duas ou três horas por noite, quase não comia nada, todos os dias pensava em se matar com a arma que guardava no sótão — uma espingarda Remington 870 que ele mantinha naquela casa de fazenda isolada para se proteger — e no entanto tudo aquilo lhe parecia uma encenação, uma encenação ruim. Quando você representa o papel de uma pessoa que está entrando em parafuso, a coisa tem organização e ordem; quando você observa a si próprio entrando em parafuso, desempenhando o papel de sua própria queda, aí a história é outra, uma história de terror e medo.
Levinson faz uma adaptação com diferenças bem nítidas em relação ao texto: a começar (e os leitores habituais de Roth logo percebem) é bem mais comedido nas cenas de sexo. Pegeen, por exemplo, "acrobata e animal", faz questão de deixar claras as limitações da idade de Simon, convidando outras parceiras... Pegeen acaba retomando sua opção pelas mulheres; o relacionamento com Axler era pura fantasia.
Uma curiosidade: Roth detestou as adaptações de seu trabalho para o cinema - especialmente a de A Marca Humana (com Anthony Hopkins). De fato, seus livros são de leitura quase compulsiva; os filmes nunca emplacaram. Será que aprovou esta aqui? Creio que não, tirando, é claro, o desempenho de Al Pacino.
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