Óleo de Antônio Firmino Monteiro (1855-1888)
Sou agora obrigado a dar um salto enorme, um salto do ano
de 1808 e da época do reino do Brasil, da que me ocupava estudando o
palácio imperial, para dois séculos e mais alguns lustros antes. Assim é
preciso fazer, visto que me comprometi a dar a história antiga da casa que
foi convento dos carmelitas.
Irei referir de envolta com alguns fatos registrados nas crônicas
do tempo uma ou duas tradições populares. Colhi os primeiros nos
livros e memórias que consultei, e as segundas contou-mas um padre
velho que morreu há dez anos. Daqueles não é lícito duvidar; a estas
pode negar-se crédito sem receio de molestar o padre, que já não tem
que ver com as cousas deste mundo.
Sem mais preâmbulos.
O famoso Mem de Sá acabava apenas de lançar os fundamentos
da esperançosa Sebastianópolis: seu sobrinho Salvador Correia de Sá
tecia ainda no alto do morro do Castelo os primeiros fios daquele ninho
de águia que foi o berço da atual capital do Império. A cidade nascente,
modesto grupo de palhoças e casinhas humildes, não tinha ainda descido a banhar seus pés de princesa nas mansas ondas do formoso golfo
que do seu trono da colina dominava; a povoação começava apenas, e já
aqui e ali surgiam e se mostravam no vale algumas piedosas ermidas que
a devoção erguera de improviso.
Cada uma delas era tão simples como a oração que sai da
alma de um menino e sobe ao céu nas asas do anjo da inocência; e eram
todas flores divinas abertas no seio daquele novo paraíso que se mostrara
aos olhos dos portugueses.
E eu que só conhecia o JMM como agente de turismo de Paquetá...E.
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