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A fantástica vida breve de Oscar Wao, de Junot Díaz

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A fantástica vida breve de Oscar Wao
Junot Díaz
Tradução de Flávia Anderson
Record, 336 páginas


Nosso herói não era um daqueles caras dominicanos que vivia na boca do povo - não se tratava de um rebatedor venerado, nem de um bachatero badalado, tampouco de um playboy cheio de mulheres aos pés.

Salvo um curto período no início da vida, o cara sempre se deu mal com as gatas (um lado seu nem um poco dominicano).

Ele tinha 7 anos, na época.

Com mais de cinco anos de atraso, leio A fantástica vida breve de Oscar Wao, de Junot Díaz, nascido na República Dominicana e hoje vivendo nos Estados Unidos (e escrevendo em inglês). Um exilado linguístico, como o foram Nabokov e Conrad, e como é Hemon.


Junot Diaz

Recentemente, o livro foi eleito o melhor romance deste início de século numa pesquisa organizada pelo site da BBC Internacional. Em 2008, deu o Pulitzer ao autor. De fato, não é pouca coisa. 

No Halloween, Oscar cometeu o erro de se vestir de Doctor Who, fantasia pela qual, aliás, ele morria de amores. Quando o vi passando em Easton, com dois outros babacas do Departamento de Letras, fiquei pasmo ao constatar o quanto ele parecia com aquele gordo gay Oscar Wilde e comentei isso com o mané. Você está igualzinho a ele, o que, na verdade, não foi uma boa para O, porque o Melvin foi logo perguntando, Oscar Wao, quién es Oscar Wao, daí, a gente passou a chamar meu colega de quarto dessa forma.


Oscar não é lá muito sortudo: imensamente gordo, nerd, desajeitado, vivendo em outro planeta - um ser absolutamente repulsivo para as garotas. Díaz elabora uma narrativa repleta de elementos, digamos, populares (RPG, quadrinhos, Marvel) mas não é necessário entender o idioma para apreciar o romance; não é preciso ser nerd ou viver no mundo de Tolkien. Pelo contrário; a história é (bastante) mais profunda. 

Esses dominicanos, que não se encaixam perfeitamente no mundo norte-americano mas que também não se imaginam retornando ao seu país, mostram uma face mais amarga da imigração. A desilusão com isso já aparece, por exemplo, no ótimo Projeto Lázaro, de outro exilado - Aleksandar Hemon. Ambos desmistificam a imagem do imigrante.

Díaz vai e volta no tempo,passando por várias gerações, e assim ficamos conhecendo a família de dominicanos que acabou em Nova Jersey. Acaba trazendo à luz o período da ditadura de Rafael Trujillo, um dos mais destacados e violentos ditadores latino-americanos (com algo de norte-coreano: todos os pontos de referência do país tiveram o nome trocado para homenagear-se - e Santo Domingo, por exemplo, virou Cidade Trujillo). E algo que os brasileiros ignoram - o massacre de haitianos promovido pela vizinha RD; episódio até hoje não superado. Aqui no blog mesmo, já falamos de Edwige Danticat - que traz a visão do outro lado da Ilha Hispaniola.

Isso por meio de notas de rodapé que Díaz usa sem dó mas que nem por isso tornam a leitura desagradável. Didático, sim, mas sem didatismo. 




Comentários

  1. Um desconhecido que a Biblioteca apresenta para nós. Ponto para a Biblioteca. E

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