Pular para o conteúdo principal

O Jogo da Imitação (2014), de Morten Tyldum


Oscar combina com Segunda Guerra e Inglaterra. Excelente o filme, com destaque óbvio para Benedict Cumberbatch, no papel de Alan Turing (1912-1954). Um matemático genial que lidera um grupo de nerds dedicados a desvendar o Enigma, código criptografado nazista tido como inquebrável.

A história, a esta altura do campeonato - véspera do Oscar - é por todos conhecida. Destaques para Cumberbatch e Keira Knightley. Charles Dance como Denniston também está muito bem, e seu nariz empinado trava um duelo com o gênio de Alan por todo o filme. 

O interesse maior fica na insuperável capacidade de Turing em matemática e criação de antipatias. A confiança de Stewart Menzies no trabalho do gênio se justifica na parte final do filme - e de forma bastante cruel. 

A questão é: a quebra do código não resolveria todos os problemas; pelo contrário: o que fazer com as informações? Os alemães não poderiam desconfiar que seu segredo fora desvendado, ou todo o trabalho teria se tornado inútil. Coube ao comando dos aliados (sim, a esta altura até os soviéticos já sabiam do projeto) "escolher" o que aceitar como baixas de guerra e o que poderia ser evitado com uma justificativa que não levantasse suspeitas entre os alemães.

O trágico destino de Alan, que cometeu suicídio (com o cianureto da primeira cena), é considerado uma das vergonhas do Reino Unido. Completamente destruído pelos remédios a que foi forçado a tomar para evitar uma prisão e efetivar a castração química, era incapaz de segurar uma caneta para resolver palavras cruzadas. Ser o pai dos computadores e herói da Segunda Guerra não lhe rendeu muitos frutos em vida. 

Comentários

  1. Não muito desenvolvida foi a hipótese do nosso herói ter trabalhado para os soviéticos. Não há provas mas tb há possibilidades... E.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa

A Magna Carta, o Rei João e Robin Hood

É claro que o rei João não se ajoelhou aos pés de Robin Hood, mas é interessante lembrar hoje, dia 15 de junho, quando a Magna Carta completa 800 anos, a ligação entre a ficção e a História, na criação do que pode ser considerado o mais importante documento da democracia. João Sem-Terra. John Lackland. Nasceu em Oxford, 1166, o quarto filho de Henrique II, o que lhe custou toda possibilidade de receber uma herança - daí seu apelido. Quando o irmão Ricardo (Coração de Leão) assume o trono, em 1189, recebe mais um golpe e, obviamente, irá fazer de tudo para tomar o poder. Em 1199, Ricardo é morto e João, finalmente, torna-se rei. Para custear as guerras, Ricardo aumentou drasticamente os impostos a um nível inédito na Inglaterra. Para piorar, ao retornar de uma Cruzada, foi feito prisioneiro dos alemães. Há quem diga que o resgate cobrado (e pago) seria equivalente a 2 bilhões de libras. Na época de João, o cofre estava vazio, mas as demandas, explodindo como n