Pular para o conteúdo principal

Grande Hotel Budapeste (2014), de Wes Anderson


Finalmente, consegui assistir ao Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson. Uma mistura de ambientação histórica e mágica, numa hipotética república da Mitteleuropa - Zubrowka. Ralph Fiennes é o grande destaque, como o M. Gustave - famoso concièrge do então não menos famoso hotel. Estamos em algum momento dos anos 30 (ainda que algumas cenas me pareçam ainda anteriores, ou contemporâneas à Primeira Guerra, especialmente as do trem).

Junto com Zero Moustafa (Anthony Quinonez), o lobby boy, o concièrge, conquistador de senhoras ricas e, preferencialmente, com mais de setenta anos, procura uma valiosa pintura da Renascença que recebeu de herança de uma dessas velhas, Madame Celine Villeneuve Desgoffe und Taxi, que acaba de bater as botas - Tilda Swinton, como sempre, fazendo (muito bem, diga-se) personagens esquisitos. Seu filho, Dmitri (Brody), claro, não irá se conformar com a opção da mãe. Junta-se aos nazistas (é impossível não associar as flâmulas com o ZZ dentro do hotel com as SS), o que somente irá piorar a situação da dupla.

Num elenco recheado de grandes atores (Bill Murray, Adrian Brody, Edward Norton, Willem Dafoe - um assassino à moda Gestapo -, Jude Law, Jeff Goldblum e Mathieu Almaric, para ficar nos principais personagens, todos, sem exceção, excêntricos), o filme homenageia Stefan Zweig. O mundo que eu vi é a grande fonte (mas não a única) do filme.

The Society of the Crossed Keys

Numa das últimas cenas, já nos anos 80, Jude Law (o escritor, também representado por Tom Wilkinson) pergunta ao já idoso Zero Mustafa, atual dono do hotel em descarada decadência -se Gustave não pertencia a um mundo que já não existia. 

Nada lembra mais Zweig, ele mesmo um fantasma que andava por aqui no Brasil, sobrevivente de um mundo que já havia desaparecido algumas décadas antes do suicídio em Petrópolis (mais exatamente em 1918, com o fim do Império Austro-Húngaro). 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei...

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa...

A Magna Carta, o Rei João e Robin Hood

É claro que o rei João não se ajoelhou aos pés de Robin Hood, mas é interessante lembrar hoje, dia 15 de junho, quando a Magna Carta completa 800 anos, a ligação entre a ficção e a História, na criação do que pode ser considerado o mais importante documento da democracia. João Sem-Terra. John Lackland. Nasceu em Oxford, 1166, o quarto filho de Henrique II, o que lhe custou toda possibilidade de receber uma herança - daí seu apelido. Quando o irmão Ricardo (Coração de Leão) assume o trono, em 1189, recebe mais um golpe e, obviamente, irá fazer de tudo para tomar o poder. Em 1199, Ricardo é morto e João, finalmente, torna-se rei. Para custear as guerras, Ricardo aumentou drasticamente os impostos a um nível inédito na Inglaterra. Para piorar, ao retornar de uma Cruzada, foi feito prisioneiro dos alemães. Há quem diga que o resgate cobrado (e pago) seria equivalente a 2 bilhões de libras. Na época de João, o cofre estava vazio, mas as demandas, explodindo como n...