Hoje, todo mundo é europeu, e quem não é está fazendo fila para ser. Há 80 ou 90 anos, os únicos que eram autênticos europeus na Europa eram os judeus, como os meus pais. Todos o demais eram patriotas búlgaros, patriotas irlandeses, patriotas noruegueses... Os judeus eram europeus devotos. Era poliglotas, adoravam que houvesse histórias diferentes, e os legados literários, e os tesouros artísticos, e sobretudo amavam a música. E amavam as paisagens, os prados e as florestas, as torrentes e os bosques nevados, os estreitos becos das cidades antigas, as universidades e os cafés. Mas a Europa nunca lhes quis. Por serem genuínos europeus, foram tachados de "cosmopolitas", "parasitas", "intelectuais sem raízes".
O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei
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