Ð ligou para Lisboa, no seu
português fluente, pedindo-me que reconstituísse a história de Ž. Eu encontrara
Ž duas vezes e estava interessada no assunto, como Ð sabia através de um amigo
comum. De resto, Ð e eu não nos conhecíamos, mas ele saltou, alegre, por cima
disso:
— Quando
podes vir a Belgrado?
Foi assim que na
noite de 2014 para 2015 me achei na colina do Kalemegdan, a fortaleza da
capital sérvia que já foi celta, romana, bizantina, otomana. O cigarro de Ð
apontou a confluência do Sava com o Danúbio, em breve o frio daria para andar
sobre as águas. Quem nos ofereceu um gole derakija disse que estavam doze negativos, mas
já bebera meia garrafa. Acho que deviam estar pelo menos vinte negativos quando
Ð e eu caímos na neve, ele de costas, eu de bruços. Um snipper não faria melhor, ao primeiro beijo.
Um conto da escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho, publicado no ótimo caderno Ípsilon, do jornal Público. Você pode ler aqui.
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