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Mostrando postagens de março, 2015

Inédito de Antonio Tabucchi

Conto inacabado e inédito de Antonio Tabucchi, publicado no caderno Ipsilon, do jornal  Público, de Lisboa. E finalmente Setembro chegou. Naquela época as aulas acabavam em Julho, o tórrido mês de Agosto era para a  villegiatura , o Algarve não existia, quer dizer, existia geograficamente, mas ninguém lá ia, e aliás quem é que podia lá ir?, para lá chegar tinha de se passar o Tejo com o carro no barco, depois percorrer o Alentejo até encontrar uns caminhos perdidos que atravessavam a serra de Monchique, e então é que se chegava às praias do Algarve, lindas, onde não havia nada nem ninguém, uma ou outra aldeia de pescadores, umas cabanas de folhagem, desgarradas naqueles areais, os camponeses vendiam melões, figos e melancias, havia uns  hippies  vindos de Inglaterra, uns rapagões feios que dormiam em tendas e que giravam para fugir à Guarda Nacional Republicana, procuravam o paradise now e achavam que o tinham encontrado ali, por entre aquelas dunas agrestes. Não me lembro bem

Austerlitz, de Sebald, no cinema

Aqui no site da  Fundação para a Memória da Shoah,  um pequeno trecho (menor do que o comercial que o antecede) da adaptação, para o cinema, do livro de W.G.Sebald, Austerlitz. Dirigido por Stan Neumann e com Denis Lavant no papel do estranho personagem principal.

A crise

Da série "só está começando": Fecha a livraria Status, em Belo Horizonte. Uma lástima. Funcionou por 15 anos... não suportou o aumento de 100% do aluguel. Uma livraria a menos; um imóvel vazio a mais; um projeto de revitalização da Savassi que naufraga mais rápido do que se imaginava.

A literatura brasileira no exterior

A presença da nossa literatura no exterior é um assunto complicado. Comecei a rever alguns lugares comuns que eu mesmo repetia sem pensar muito. Imagina-se sempre que a culpa é do isolamento da língua portuguesa, da desimportância internacional do Brasil ou mesmo da falta de políticas de incentivo à divulgação dos nossos autores no exterior. São explicações incompletas, embora cada uma tenha algum peso. Quanto ao incentivo, o projeto da Biblioteca Nacional patrocinando traduções de livros já contratados por editores estrangeiras – imitando o que se faz muito em países de Primeiro Mundo – tem sido importante no relativo aumento da nossa presença lá fora. Mas há outras variáveis. O profundo desinteresse do exterior pela nossa literatura pode ter relação simplesmente com algumas especificidades muito fortes da nossa produção, que sente dificuldades de conversar com o resto do mundo. E também, talvez, com alguns aspectos temáticos e estilísticos da linguagem literária brasileira que não e

A fantástica vida breve de Oscar Wao, de Junot Díaz

A fantástica vida breve de Oscar Wao Junot Díaz Tradução de Flávia Anderson Record, 336 páginas Nosso herói não era um daqueles caras dominicanos que vivia na boca do povo - não se tratava de um rebatedor venerado, nem de um bachatero badalado, tampouco de um playboy cheio de mulheres aos pés. Salvo um curto período no início da vida, o cara sempre se deu mal com as gatas (um lado seu nem um poco dominicano). Ele tinha 7 anos, na época. Com mais de cinco anos de atraso, leio A fantástica vida breve de Oscar Wao, de Junot Díaz, nascido na República Dominicana e hoje vivendo nos Estados Unidos (e escrevendo em inglês). Um exilado linguístico, como o foram Nabokov e Conrad, e como é Hemon. Recentemente, o livro foi eleito o melhor romance deste início de século numa pesquisa organizada pelo site da BBC Internacional. Em 2008, deu o Pulitzer ao autor. De fato, não é pouca coisa.  No Halloween, Oscar cometeu o erro de se vestir de Doctor Who, fantasia pela qual, ali

Dante por Manguel

Mi primer recorrido por la  Comedia  fue de sorpresa, regocijo, aturdimiento. Yo, que no soy creyente, sentí (como siento cada vez que la releo, un canto por día, desde aquella primera vez), que ese Infierno, ese Purgatorio, ese Paraíso, son reales, que el asombrado peregrino y las sombras de Virgilio y de Stacio, y la mirada y la sonrisa de la fría Beatriz son reales, obligándome a creer, absolutamente, en su existencia poética, y definiendo no solo el viaje de Dante sino el mío en este mundo. Cada vez que vuelvo a encontrarme con Dante en la selva oscura y cada vez que comparto con él la última visión "que por el universo se deshoja", tengo la impresión de recorrer un libro nuevo, nunca antes abierto. Eso es, quizá, porque aquella primera vez sentí que la literatura de Dante me estaba revelando el universo entero y todos sus secretos, cuando en verdad me estaba prometiendo una revelación que ni siquiera los ángeles pueden concedernos por completo, y gracias a lo cual

Joaquim Manuel de Macedo faz um passeio pelo Rio de Janeiro

Óleo de Antônio Firmino Monteiro (1855-1888) Sou agora obrigado a dar um salto enorme, um salto do ano de 1808 e da época do reino do Brasil, da que me ocupava estudando o palácio imperial, para dois séculos e mais alguns lustros antes. Assim é preciso fazer, visto que me comprometi a dar a história antiga da casa que foi convento dos carmelitas. Irei referir de envolta com alguns fatos registrados nas crônicas do tempo uma ou duas tradições populares. Colhi os primeiros nos livros e memórias que consultei, e as segundas contou-mas um padre velho que morreu há dez anos. Daqueles não é lícito duvidar; a estas pode negar-se crédito sem receio de molestar o padre, que já não tem que ver com as cousas deste mundo. Sem mais preâmbulos. O famoso Mem de Sá acabava apenas de lançar os fundamentos da esperançosa Sebastianópolis: seu sobrinho Salvador Correia de Sá tecia ainda no alto do morro do Castelo os primeiros fios daquele ninho de águia que foi o berço da atual capital do Império.

A mão

A MÃO Vinte e sete ossos, trinta e cinco músculos cerca de duas mil células nervosas em cada uma das pontas dos cinco dedos. É quanto basta  para escrever Mein Kampf ou A Casinha do Ursinho Puft. Wislawa Szymborska. A tradução é de Teresa Swiatkiewicz, para o excelente  Poesia & Lda.