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Mostrando postagens de fevereiro, 2015

Tangerines (2013), de Zaza Urushadze

Disputou o Oscar de filme estrangeiro e perdeu para  Ida . Se você quer um contraponto ao Sniper Americano, é esse o seu filme. Uma atmosfera melancólica envolve esta declaração antibélica, coprodução entre Estônia e Geórgia. Foi rodado na região de Guria, no oeste da Geórgia. Passado na guerra de 1992 na Abkazia, região que se tornou independente mas que somente é reconhecida pela Rússia, conhecemos a história de Ivo (Lembit Ulfsak, ótimo) e Margus (Elmo Nuganen), estonianos envolvidos na produção de tangerinas. Todos os seus familiares e vizinhos voltaram para a Estônia. Só os dois insistem em ficar numa terra conflagrada. Lembre-se que a história se passa um ano depois do colapso soviético - se hoje não se sabe o que irá acontecer com o leste europeu, naquele tempo, então... Livres da URSS - que fomentou e criou muitas das questões que se arrastam até hoje na região - as diversas nacionalidades começaram a ajustar suas contas. Uma disputa, nas proximidades da casa de Ivo, e

Os filhos do padre (2012), de Vinko Bresan

Não consegui assistir no cinema (passou em BH em 2014 durante algumas semanas) esse ótimo filme croata, que caiu na TV a cabo. Tratando de sexo (sem uma cena sequer de nudez) e religião, Bresan conseguiu fazer uma comédia diferente do que normalmente se espera diante desses temas. O padre Fabian (Kresimir Mikic) chega a um vilarejo na costa da Dalmácia (sim, a fotografia já vale o filme) para substituir o pároco local, Jakov (Zdenko Botic). Este, no entanto, é extremamente popular e querido (joga futebol com os jovens e bocha com os velhos, e a incompatibilidade de Fabian com a bola não passa despercebida pela Biblioteca). Todos querem se confessar com ele, e Fabian fica de lado. Ele é, acima de tudo, um conservador, que quer ser apenas um padre. E está incomodado com o fato de, na vila, não nascer quase mais ninguém (só se morre...) Como as filas são muito grandes, Petar (Niksa Butijer), que tem uma loja de tabaco, acaba se confessando com Fabian. É um assassino, diz, p

O Jogo da Imitação (2014), de Morten Tyldum

Oscar combina com Segunda Guerra e Inglaterra. Excelente o filme, com destaque óbvio para Benedict Cumberbatch, no papel de Alan Turing (1912-1954). Um matemático genial que lidera um grupo de nerds dedicados a desvendar o Enigma, código criptografado nazista tido como inquebrável. A história, a esta altura do campeonato - véspera do Oscar - é por todos conhecida. Destaques para Cumberbatch e Keira Knightley. Charles Dance como Denniston também está muito bem, e seu nariz empinado trava um duelo com o gênio de Alan por todo o filme.  O interesse maior fica na insuperável capacidade de Turing em matemática e criação de antipatias. A confiança de Stewart Menzies no trabalho do gênio se justifica na parte final do filme - e de forma bastante cruel.  A questão é: a quebra do código não resolveria todos os problemas; pelo contrário: o que fazer com as informações? Os alemães não poderiam desconfiar que seu segredo fora desvendado, ou todo o trabalho teria se tornado inútil. Coube

O bibliotecário do imperador, de Marco Lucchesi

O bibliotecário do imperador Marco Lucchesi Biblioteca Azul, 2013 112p. Haverá terapia que atenda às necessidades primárias dos colecionadores de livros, dos que se enamoram do objeto, das partes acessórias e acidentais? O bibliófilo clássico, na estrita acepção da palavra, não passa de um magnífico idiota. As qualidades intelectuais o denunciam e não sei o que mais admirar, se a falsa erudição a que faz jus, se o oportunismo vigilante, que o denuncia, ou se as unhas ousadas e compridas. O bibliófilo é um lascivo por definição. Poderia presidir a melhor biblioteca da Corte ou o mais lúrido bordel, como o da rua Senhor dos Passos, lançando mão da mesma atitude, entre rameiras e leitores: a língua ferina e o caráter simulado. Os bordéis e as livrarias perdem com tal figura, a quem importa menos o volume que o conjunto, menos a verdade que a aparência. Marco Lucchesi, tradutor, poeta, ensaísta e romancista - e poliglota (16 línguas!) recupera a história de Inácio

A Bolsa, de Balzac

O pintor Schinner (Georges Cain) Este A Bolsa não é das mais interessantes d' A Comédia Humana. Hipólito Schinner é um famoso pintor que sofre um acidente em seu ateliê. Ao recobrar os sentidos, descobre que foi socorrido por Adelaide de Leseigneur e sua mãe, a baronesa de Rouville. Em retribuição, faz-lhes uma visita - a longa descrição do apartamento das duas é típica de Balzac: Aquela peça servia de museu para certas coisas que não se encontram senão nessas espécies de lares anfíbios, objetos sem nome, que participam ao mesmo tempo do luxo e da miséria. Hipólito descobre que as duas sofrem com a morte do pai/marido, o sr. de Rouville, comandante de um navio que morreu em combate com os ingleses. O crescente interesse do pintor por Adelaide sofre alguns contratempos; o principal deles é a grande desconfiança que todos têm em relação ao que fazem para se sustentar as duas mulheres: - Alto lá! É uma rapariguinha que vou ver todos os dias na igreja de l'Asso

Dora Bruner, de Patrick Modiano

A Rocco relança alguns romances do Nobel de 2014, Patrick Modiano (1945). Para muitos, esse Dora Bruder , originalmente escrito em 1997, sua obra-prima. Li Dora Bruder, numa edição francesa de bolso (Gallimard). No final da década de 80, examinando um exemplar do jornal Paris-Soir de dezembro de 1941, Modiano depara-se com um aviso dos pais de Dora, à sua procura. Indicam o endereço no Boulevard Ornano, perto da Porte de Clignancourt. O narrador conhece o bairro; nele passou parte da juventude. É isso que o leva a indagar: o que se passou com a menina? Como vivia uma família judia sem recursos na Paris ocupada?  Dora Bruder entre seus pais O que temos em Dora Bruder é uma história a partir de quase nada. Neste sentido, as semelhanças com  Gotz e Meyer, de David Albahari , são facilmente percebidas. Mas Albahari parte com mais convicção para a ficção.  Modiano investiga o episódio. Tenta rastrear Dora e descobrir o que ocorreu naquele período - ela abandona o

Judas, de Amós Oz

Judas Amós Oz Tradução: Paulo Geiger Companhia das Letras, 362p. Amós Oz (1939) é um daqueles autores candidatos quase que vitalícios ao Nobel, que teima em ignorá-lo. Azar da Academia. Oz, crítico ferrenho do atual governo israelense e ídolo da esquerda, lida há tempos com essa sua peculiar condição. É odiado pela direita, que o enxerga como um traidor da causa israelense, ao defender a coexistência de dois estados. Adorado pela esquerda, não o é sem polêmicas, principalmente por ter apoiado algumas operações militares recentes. Os traidores são os que mais amam, são aqueles que estão à frente do seu tempo Shmuel Asch, depois de ser abandonado pela noiva, ver os pais falirem e, em consequência, perder a oportunidade de prosseguir seus estudos, acaba trabalhando como interlocutor de um idoso, Guershom Wald, que vive com uma misteriosa mulher, Atalia Abravanel, sua nora. Ela foi casada com Misha Wald, que foi cruelmente morto pelos árabes na guerra de 1948. O pai d