O julgamento unânime dos leitores de todos os séculos concorda em um ponto: que a parte mais "interessante", mais humana, do Cosmo dantesco, é o "Inferno"; e nesta afirmação se esconde um dos julgamentos mais graves que já se pronunciaram contra a humanidade (...) A grande maioria dos leitores da Divina Comédia só conhece o "Inferno"; vence as dificuldades das alusões políticas e históricas, que tornam indispensável o comentário, para compreender os grandes episódios que criaram a glória do poema através dos séculos. Uma compreensão tão fragmentária do "Inferno" não sente escrúpulos, fragmentando o poema inteiro: o "Inferno", sim, seria um reflexo satírico - sátira trágica - do mundo real e por isso acessível à nossa sensibilidade: o "Purgatório" seria, apenas, repetição mais fraca do "Inferno", e o "Paraíso", enfim, uma abstração, teologia escolástica em versos; para a grande maioria dos leitores o "Paraíso" não existe.
Otto Maria Carpeaux, História da Literatura Ocidental, vol, I, p. 257
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