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Mostrando postagens de novembro, 2013

Conto da semana, de Horacio Quiroga

O conto da semana - O travesseiro de penas - pode ser lido, em português,  aqui. Horacio Quiroga (1878-1937) é um dos grandes mestres do conto latino-americano. Neste, Alicia sofre com um casamento que não lhe é muito feliz, por mais que ela e Jordán se amem. Do contrário, poderia ter se salvado se, numa viagem no tempo, tivesse conhecido Thérèse Desqueyreux... O conto, de cerca de quatro páginas, integra várias antologias editadas por aqui. A vida de Quiroga foi, do início ao fim, uma  desgraça.  Seus textos nos levam imediatamente a Poe e a algumas histórias de Maupassant. Borges criticava-o bastante, mas Quiroga bem que daria um excelente personagem para o argentino.

O europeu, segundo Amós Oz

Hoje, todo mundo é europeu, e quem não é está fazendo fila para ser. Há 80 ou 90 anos, os únicos que eram autênticos europeus na Europa eram os judeus, como os meus pais. Todos o demais eram patriotas búlgaros, patriotas irlandeses, patriotas noruegueses... Os judeus eram europeus devotos. Era poliglotas, adoravam que houvesse histórias diferentes, e os legados literários, e os tesouros artísticos, e sobretudo amavam a música. E amavam as paisagens, os prados e as florestas, as torrentes e os bosques nevados, os estreitos becos das cidades antigas, as universidades e os cafés. Mas a Europa nunca lhes quis. Por serem genuínos europeus, foram tachados de "cosmopolitas", "parasitas", "intelectuais sem raízes". Amós Oz, em artigo publicado no El País Brasil, e que pode ser lido, na íntegra, aqui.

Tão longo amor tão curta a vida, de Helder Macedo

No site da Revista Samizdat, meu texto sobre o recém lançado romance de Helder Macedo. Tão longo amor tão curta a vida. O título do mais recente romance do português Helder Macedo (1935) e lançado agora pela Rocco é também a última estrofe do soneto Sete anos de pastor Jacob servia , de Camões. Jacob, sabe-se, ficou com as duas irmãs, Raquel e Lea. Victor Marques da Costa é um diplomata português que está em Londres para uma conferência sobre o Oriente Médio. Sobre uma Líbia sem Kadafi, sobre uma Síria com Bashar, sobre o Irã. Ele aparece, repentinamente, na casa de seu amigo, um conterrâneo, escritor (Macedo?). Aflito, dizendo-se vítima de um sequestro, começa a contar-lhe uma história, tão interessante quanto improvável. O diplomata admira o amigo escritor, que no entanto não tem tanta certeza assim deste apreço. O escritor então começa a ouvir a história do atormentado amigo, que um dia conheceu uma certa Lenia Nachtigal, quando servia em Berlim Oriental em seus últ...

Hã? - Uma teoria

"Hã?" e as suas congêneres são tão excepcionais na sua uniformidade que os cientistas quiseram mostrar que são palavras "a sério" - e não apenas "ruídos" inatos, tais como os espirros ou o choro. Uma Teoria Geral da Indagação. De acordo com a  matéria , foi o que restou da época em que construíamos Babel...

Conto da semana, de Rui Manuel Amaral

Considero uma humilhação pessoal descobrir um escritor português numa antologia americana. Foi o caso com Rui Manuel Amaral (1973), que é o representante de Portugal na Best European Fiction de 2014 - agora editada por John Banville, em substituição a Aleksandar Hemon.  O autor português já lançou dois volumes, Caravana e Doutor Avalanche. Alguns deles me lembram os textos de Daniil Harms. Aqui, portanto, três contos de Rui Manuel Amaral, obviamente em português.

A Irmã de Freud, de Goce Smilevski, no Brasil

Finalmente, A irmã de Freud, de Goce Smilevski, que já apareceu no blog (aqui) , chega pela Bertrand Brasil.  O primeiro capítulo está disponível  aqui.

Conto da semana, de David Albahari

Um conto muito curto e que lembra Borges, e que foi publicado originalmente na Revista Blesok. : At night, as the shadows grow, so does the boy's fear, rising regardless of the voice coming from under the bed, repeating over and over: don't be afraid, little boy, you're not alone, you're not alone, not at all. David Albahari (1948) é um dos maiores escritores sérvios da atualidade. De origem judaica, vive no Canadá.

Escritores portugueses e o mercado no Brasil

Um interessante artigo sobre as expectativas e a realidade dos escritores e editores portugueses que vieram para o Brasil. Prestígio que os escritores portugueses suscitam no Brasil é superior à venda de seus livros. Bárbara Bulhosa, portuguesa que, em 2012, fundou a editora Tinta da China Brasil, diz que a literatura nacional não merece tratamento de preferência: “Há interesse por bons escritores que escrevam em português, não necessariamente pela literatura portuguesa. Se a Dulce Maria Cardoso fosse angolana ou espanhola tinha recebido a mesma atenção quando esteve no Brasil”. O livro O Retorno, de Dulce Maria Cardoso, editado pela Tinta da China Brasil em 2012, foi elogiado pela crítica e a visita da autora, convidada para a Feira Literária Internacional de Paraty, mereceu destaque em vários jornais. “Em Portugal, O Retorno vendeu dezoito mil exemplares”, diz Bárbara, “no Brasil vendeu dois mil”. Se os números são excelentes para a realidade portuguesa, não estão nada mal para...

Conto da semana, de Franz Kafka

Prova de que até meios insuficientes - infantis mesmo podem servir à salvação: Para se defender das sereias, Ulisses tapou os ouvidos com cera e se fez amarrar ao mastro. Naturalmente - e desde sempre - todos os viajantes poderiam ter feito coisa semelhante, exceto aqueles a quem as sereias já atraíam à distância; mas era sabido no mundo inteiro que isso não podia ajudar em nada. O canto das sereias penetrava tudo e a paixão dos seduzidos teria rebentado mais que cadeias e mastro. Ulisses, porém, não pensou nisso, embora talvez tivesse ouvido coisas a esse respeito. Confiou plenamente no punhado de cera e no molho de correntes e, com alegria inocente, foi ao encontro das sereias levando seus pequenos recursos. As sereias entretanto têm uma arma ainda mais terrível que o canto: o seu silêncio. Apesar de não ter acontecido isso, é imaginável que alguém tenha escapado ao seu canto; mas do seu silêncio certamente não. Contra o sentimento de ter vencido com as próprias forças ...

Asco, de Horacio Castellanos Moya

Asco Horácio Castellanos Moya Tradução: Antônio Xerxenesky Editora Rocco Talvez a maioria não tenha percebido, mas Moya já havia sido publicado por aqui. É ele o autor do conto Sozinhos no universo inteiro, na Antologia Pan-Americana. Asco - ou melhor: Asco: Thomas Bernhard em San Salvador - é uma novela de leitura rápida. Na verdade, um exercício literário: o próprio autor estava escrevendo à moda de Bernhard (se é que isso é possível).  Publicado em 1997, é uma prova de que, ao contrário do que se costuma apregoar, os latino-americanos não têm um humor dos melhores. Não por parte de Horacio Castellanos Moya (1957), claro, mas da sociedade. Após a publicação da novela, o autor passou a sofrer ameaças de morte. Um exercício, uma brincadeira, que foi levada demasiadamente à sério pelos seus compatriotas. Uma pena. Mas talvez - e apenas talvez - isso signifique que o autor tenha sido lido pelos seus compatriotas, o que surpreenderia Vega... Edgardo Vega, o Bernhard s...

Conto da semana, de Eduardo Berti

O argentino Eduardo Berti (1964) diz que a diferença entre o conto e o romance está mais no foco do que propriamente a extensão do relato. "Há pouco li uma definição de Edith Wharton que gostei. Dizia que a situação é a preocupação principal do conto, enquanto na novela ela é o personagem".  Aqui, uma interessante matéria sobre o autor.  Nela, Berti afirma que uma característica da literatura latino-americana é a impossibilidade de classificação - romance, crônica, conto ou ensaio? - para desespero das editoras. Berti já publicou romances e alguns volumes de contos. No Brasil, abre a Antologia Pan-Americana , publicada pela editora Record e organizada por Stéphane Chao com A Cópia.  Tinha comprado um óleo em um leilão. Era a cópia de uma pintura feita por um artista chamado H. Linden. O próprio Linden estava no leilão, sentado em silêncio a um lado do estrado do leiloeiro. Era um homem comprido, um pouco encurvado, com um lenço vermelho ao redor do pescoço saindo...