- Pois bem, preguiçoso! Vai continuar a ler esses malditos livros enquanto está de guarda na serraria? Leia de noite, quando vai perder seu tempo na casa do cura, isso sim.
Julien, embora atordoado pela força do golpe e todo ofendido, aproximou-se de seu posto oficial, ao lado da serra. Tinha lágrimas nos olhos, menos por causa da dor física do que pela perda de um livro que adorava.
- Desça daí, animal, quero falar com você.
O barulho da máquina outra vez impediu Julien de ouvir a ordem. O pai, que havia descido, não querendo se dar ao trabalho de escalar novamente o mecanismo, foi buscar uma comprida vara de derrubar nozes e com ela bateu-lhe no ombro. Mal Julien chegou ao chão e o velho Sorel, enxotando-o rudemente à sua frente, empurrou-o na direção de casa. "Sabe Deus o que vai fazer comigo!", pensava o rapaz. De passagem, olhou tristemente o riacho onde caíra o livro; era de todos o que mais prezava, o Memorial de Santa Helena.
(O Vermelho e o Negro, Stendhal, tradução de Raquel Prado, Cosac Naify, p. 35-36).
Pensei q ninguém mais lesse O vermelho e o negro. Bom, daqui a pouco ninguém mais vai ler nada...
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