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La disparition de Josef Mengele, de Olivier Guez

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Em 1949, Mengele chega a Buenos Aires. Perón está atento à chegada de hordas de fugitivos nazistas. Espera por uma guerra entre Estados Unidos e União Soviética e imagina que a Argentina pode se dar bem num cenário pós-apocalíptico. A caçada aos nazistas ainda não havia começado. 

Esse trabalho de Olivier Guez (Strasbourg, 1974) recebeu o Prêmio Renaudot de melhor romance de 2017 - por seu "romance-verdade". Mas esse La disparition de Josef Mengele não é exatamente um romance. É realmente um grande trabalho de pesquisa e de reconstituição da vida do monstro alemão de 1949 a 1979, quando morre em circunstâncias estranhas em Bertioga. Guez nos mostra os contatos que mantiveram um dos homens mais procurados do mundo a salvo da Justiça - ele jamais respondeu pelos seus crimes. 

De fato, Guez é um conhecido jornalista, que se destacou, na França, por L'impossible retour, une histoire des juifs en Allemagne depuis 1945. 

Somente a partir de 1960, com a captura de Eichmann (que, na Argentina, esnobou Mengele) pelo Mossad, o mundo começa a procurar, efetivamente, por Mengele. Na Argentina, mais problemas, já que Perón foi derrubado em 1955. Mengele, inicialmente, foge para o Paraguai de Stroessner, também muito interessado em abrigar criminosos de guerra nazistas. Segundo Guez, o país é um "dispositivo ocidental para barrar as guerrilhas marxistas comandadas por Moscou e Havana na América do Sul".

Mas a situação já não é a mesma de 1949. Simon Wiesenthal publica um livro em 1967 - Os assassinos estão entre nós. Há um capítulo especialmente dedicado a Mengele, "o homem que colecionava olhos azuis". E afirma que o monstro está no paraguai, na rota Assunção-São Paulo.

É hora de fugir novamente. Desta vez, para o Brasil.

Nos anos 70, Franz Stangl, o ex-comandante de Treblinka e Sobibor é preso em sua casa por agentes brasileiros e despachado para a Alemanha Ocidental. O círculo está se fechando. Ao mesmo tempo, Mengele está doente e isolado. Seu filho, Rolf, vive na Alemanha e abomina o passado de seu pai, com quem nunca conviveu. Sente uma vergonha infinita. No momento mais próximo a um romance, Guez mostra o encontro entre ambos, no Brasil, e a incômoda pergunta que Rolf faz ao pai: você fez tudo aquilo mesmo? Ele sabe a resposta. O pai não titubeia: piedade não é algo válido porque os judeus não pertencem ao gênero humano. Os dois jantam em silêncio. No dia seguinte, Rolf parte para a Europa. Nunca mais se falarão.

Il meurt, simplesment. Alors, mû par une force obscure, il entre seul dans l'eau turquoise, tête basse, et se laisse flotter, ne sent plus son corps endolori ni ses organes viciés, porté par le courant qui le draine vers le large et les grands fonds, quand brusquement sa nuque maigre se raidit, ses mâchoirtes se serrent, ses membres et sa vie se figent. 

As últimas páginas recontam a exumação de seus restos, em 1985 (foi enterrado em Embu como Wolfgang Gerhard. Nenhuma referência nominal aos brasileiros envolvidos na investigação. Salvo engano, Romeu Tuma passou a ser conhecido nacionalmente ao atuar, como delegado de polícia, no caso. Somente em 1992, o exame de DNA encerrou, definitivamente, a questão.

No final, seus ossos foram doados para estudos em faculdade de medicina.

Absurdo, em minha modesta opinião. Por mim, jogava num alto-forno de alguma siderúrgica.

O livro de Guez vale a pena como uma pesquisa muito bem feita e um texto muito ágil e interessante, mas não o classificaria como um romance.

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