Passei
a acompanhar Simon Schama assistindo aos seus documentários sobre arte, que
começaram a ser transmitidos no incrível canal da TV a cabo Arte1. E, conhecendo
o autor, fui direto ao primeiro volume da sua História dos Judeus, que saiu por aqui pela Companhia das Letras.
O
título original é Story, e não History of the Jews. A ideia é mesmo a
de um contador de histórias, muito mais que o trabalho de um historiador.
Assim,
o livro começa com uma carta escrita por um pai aflito ao seu filho, um
mercenário por volta de 475 a.C. – você está sendo pago? Está comendo direito? –
que integrava a tropa judaica, nas ilhas Elefantinas, último posto da
civilização à beira do deserto da Núbia. Schama mostra que era possível ser judeu
e egípcio. Como, depois, por séculos, seria perfeitamente natural ser judeu e
árabe. Até que Maomé aparece e mais uma religião monoteísta aparece.
Das
ilhas Elefantinas até a expulsão dos judeus da Espanha dos Reis Católicos,
Schama mostra a vida cotidiana dos judeus, e apresenta sua ideia de que sempre
foram abertos à miscigenação e ao contato com outros povos. E identifica no
arcebispo de Antioquia, São João Crisóstomo, no século IV, um grande responsável
pela ideia – até então inexistente – de que judeus e cristãos não poderiam
compartilhar, jamais, o mesmo espaço – casas, ruas; as mulheres cristãs
poderiam ser seduzidas pelos assassinos de Deus. Logo os judeus seriam equiparados
a vampiros. Não era mais possível ser judeu e bizantino. E a Idade Média ainda
não havia começado...
Um
capítulo mais sombrio é o da Mulher
Asquenaze, onde Schama relata os assassinatos e massacres da época das
Cruzadas. Matar os judeus se torna “necessário” para liberar Jerusalém. Afinal,
eles não sequestram meninos cristãos na Páscoa? A história de Hugo de Lincoln,
menino de 9 anos, aparece no The Prioress’s Tale, de Chaucer (Canterbury Tales).
O
inglês, que há anos mora em Nova York (“o melhor lugar do mundo para ser judeu”)
e dá aulas na Universidade de Columbia, resolveu dar continuidade ao projeto de
Cecil Roth, interrompido nos anos 70 com a sua morte. O projeto deu origem a
dois livros (o segundo volume acaba de ser lançado nos EUA e não deve demorar a
chegar aqui) e uma série de televisão em cinco episódios (será que conseguiremos
assistir daqui?).
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