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Mostrando postagens de agosto, 2015

Desonra, de J. M. Coetzee

Desonra J. M. Coetzee Tradução: José Rubens Siqueira Companhia das Letras, 2000 248p. David Lurie é um bôer perdido na África. Como nos conta o próprio narrador,  Ele fala italiano, fala francês, mas italiano e francês de nada valem na África negra. Está desamparado, um alvo fácil . A África do Sul de Desonra é pós-apartheid (o livro é de 1999, menos de dez anos após o fim do regime).  Um mundo estranho para David, professor de literatura, nada empolgado na Universidade ( que já não se interessa pelo seu cultuado Byron . Sua vida é bem, digamos, metódica, o que inclui seus encontros com uma prostituta, Soraya.  Na universidade, envolve-se com uma aluna, Melanie. Força bastante a barra, consegue-a mas o envolvimento (consentido) não escapa aos pais da moça e o colegiado. A partir daí, David é tragado pelo momento em que vivemos: é chamado a se arrepender publicamente, mas o faz de forma a não parecer "verdadeiramente arrependido" e a Inquisição universitária n

Las ultimas palavras, de Rita Ender

Um documentário que acaba de ser lançado na Turquia - Istambul, mais exatamente a ilha de Büyükada, que concentra o que restou da comunidade judaica. O filme trata dos jovens sefaradis, entre 25 e 35 anos, e conclui que o Ladino irá morrer nesta geração. Dirigido por Rita Ender, inclui cenas em que os seus ainda falantes dividem as poucas palavras que se lembram. E trata da campanha "Cidadão, fale turco", dos anos 30, através da qual a nova República incutia nos seus cidadãos slogans como "fale turco ou deixe o país (lembra o nosso "ame-o ou deixe-o").

El olivo que no ardió en Salónica, de Manuel Mira

El olivo que no ardió en Salónica Manuel Mira La esfera de los libros, 2015 735p. El olivo que no ardió en Salónica , de Manuel Mira (1945) - as primeiras páginas, em espanhol, foram disponibilizadas pela editora  aqui  -  é um romance histórico, fruto de detalhadíssima pesquisa realizada pelo autor, jornalista espanhol, sobre a saga da família Carasso.  Isaac Carasso, que vivia em Salônica (Império Otomano, hoje cidade da Grécia) descobriu que os pastores búlgaros faziam uma bebida com o leite de suas ovelhas. Algo único, um verdadeiro elixir a vida, jaurt. Seu filho Daniel era conhecido pelo apelido, Danón.  A descrição da vida no mundo sefaradi otomano - cujo império já se encontrava em fase terminal -, a relação com outras nações, em especial os búlgaros e gregos, a intervenção de Alfonso XIII, a guerra entre o Império Otomano contra a Itália e, logo depois, a Primeira Guerra Balcânica - tudo como pano de fundo para contar a história do criador do que vi

Dia 4

Quatro colecionadores - reais e fictícios;  aqui.

O Último Ato - The Humbling (2014) de Barry Levinson

"Ele perdera a magia", é a abertura d' A Humilhação, publicado em 2009. Aos 65 anos, Simon Axler, veterano e consagrado ator de teatro, intérprete de Shakespeare e Tchekov, começa a ficar paralisado no palco e abandona a carreira. Acaba encontrando Pegeen Stapleford (Greta Gerwig), de 40, lésbica (aparentemente, em dúvida), filha de um casal de amigos. Quando criança, era apaixonada pelo famoso ator.  O livro faz parte do último ciclo de Roth - é o seu penúltimo romance, para ser exato. Ao lançá-lo, já tinha terminado Nêmesis. O filme de Barry Levinson (que dirigiu Rain Man ) tem como ponto alto o protagonista - Al Pacino, que adquiriu os direitos para o cinema. Interessou-se pela história da crise - segundo ele, Roth certamente pensou no bloqueio criativo do escritor, e não do ator.  No livro: O pior era que ele questionava sua queda tal como questionava sua atuação. O sofrimento era terrível, e no entanto ele duvidava que fosse genuíno, o que o torn

Philip Roth explica como escreve seus romances

Começar um livro é desagradável. Fico completamente indeciso quanto ao personagem e sua situação, e é com um personagem em determinada situação que tenho de começar. Pior do que não conhecer o assunto é não saber como tratá-lo, porque, definitivamente, isso é tudo. Datilografo inícios que ficam  horríveis, parecem mais uma paródia inconsciente de meu livro anterior do que a ruptura que pretendo conseguir. Preciso de alguma coisa que impulsione o núcleo do livro, um ímã que atraia tudo para ele – é isso que procuro durante os primeiros meses em que estou escrevendo algo novo. Com freqüência tenho de escrever cem páginas ou mais, antes de conseguir um parágrafo cheio de vida. Muito bem, digo a mim mesmo esse é o começo, parta daí: eis o primeiro parágrafo do livro. Examino detalhadamente os que escrevi nos primeiros seis meses de trabalho e sublinho em vermelho um parágrafo, uma sentença – às vezes não mais que uma frase – que contenha alguma vida e então junto tudo isso em uma página.