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De livros e livros

Sérgio Augusto (sua coluna é imperdível), no Estadão deste sábado:

Os últimos romances com mais de 500 páginas que li de fio a pavio, sem obrigação, foram os de Jonathan Franzen, o taludo 2666 de Roberto Bolaño (que a rigor são cinco romances numa única lombada), e Vício Inerente (Pynchon, cujas 459 páginas o enquadram nessa categoria). Custei um pouco a atravessar os quatro primeiros capítulos de Homem que Amava Cachorros, de Leonardo Padura, por já saber tudo o que gostaria de saber sobre Trotski, via Isaac Deutscher. Apesar de minha obsessão pela 2ª Guerra Mundial, faltou-me coragem para encarar as quase mil páginas de As Benevolentes, de Jonathan Littel. A restrição de uma amiga foi uma desculpa em que me apoiei para deixar O Pintassilgo (792 páginas), de Donna Tartt, na salmoura; prova de que o conselho de Virginia Woolf afinal me entrou por um ouvido e saiu pelo outro. 

O artigo, completo, está aqui.

Não consegui ler 2666 (sim, confesso, podem me mandar para o paredão da Cuba de Padura). Gosto dos romances curtos de Bolaño, mas simplesmente não levei adiante seu grande romance grande. Franzen ainda não me animou. Littel já esteve na minha mão mais de três vezes nas livrarias, mas sempre acabei deixando por lá. Já Padura me agradou muito: em 2014, os tijolos que li foram Homem que Amava Cachorros e As aventuras do bom soldado Svejk, de Hasek. 

José Pacheco Pereira, no Público (Lisboa) deste sábado (Vale a pena ler livros novos?):

Já uma vez coloquei essa pergunta de modo biográfico, dizendo que, por regra, não lia nada que não tivesse aguentado dez, quinze anos, de "necessidade de leitura". Isso provocou reacções muito negativas. Eu, se fosse autor de ficção contemporânea, não acharia graça nenhuma em ser substituído na leitura nem que fosse por Balzac ou Tolstoi. Compreendo bem as reacções, mas elas não iludem o problema: vale a pena ler livros novos de ficção, poesia, teatro etc? Não está tudo já escrito e reescrito com qualidade já tesada e com real ligação com o que de mais indispensável existe na nossa história cultural? Como podemos viver sem Ibsen, Molière, Bocaccio, Stendhal, Cervantes, Safo, Virgílio, mesmo quando já não temos tempo para os ler como merecem sem também já escolhermos entre Proust ou Claudel, ou Dickens e Conrad, ou Nabokov e Updike?  Sim, porque mesmo num cânone muito limitado, e tendo nós que ler outras coisas, sejam manuais escolares, sejam livros técnicos, sejam memórias, sejam livros de actualidade, o tempo não chega. 

O artigo completo está aqui.

O drama existencial de todo leitor. No meu caso, são fases. A cada ano, tento traçar pelo menos um grande livro do cânone. Já houve o ano Guerra e Paz; já passei seis meses lendo José e seus Irmãos (Mann). Este ano o objetivo é pelo menos visitar todos os círculos infernais de Dante.


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