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Mostrando postagens de junho, 2020

Fractura, de Andrés Neuman

Un terremoto fractura el presente, quiebra la perspectiva, remueve las placas de la memoria. Andrés Neuman (1977), argentino que vive na Espanha, já esteve aqui com O viajante do século. Agora, volta ao longo romance com Fractura .  O senhor Watanabe é, digamos, uma vítima da História: criança, estava com seu pai em Hiroshima quando caiu a primeira bomba atômica. Seu pai morreu na hora; ele sobreviveu. Tenta voltar para casa mas perde o ônibus. Sorte sua - não está em Nagasaki quando caiu a segunda bomba atômica, que pulverizou sua família. Agora, 66 anos depois, o velho Watanabe, depois de ter conhecido o mundo, está de volta ao Japão quando, numa espécie de hat trick macabro, acontece o acidente de Fukushima (depois de um terremoto e um tsunami). A vida de Yoshie Watanabe é contada por quatro mulheres a um jornalista, Jorge Pinedo. Da primeira, que o conheceu na Paris dos anos 60 até a última, vemos uma história de uma pessoa comum - se é que um sobrevivente nuclear pode ser consider

Proust e o retrato do artista quando velho

Depois de passar alguns anos num sanatório, o narrador volta a Paris, comparecendo a uma festa elegante onde encontra homens e mulheres de cabelos grisalhos, antigos companheiros e amigos, agora tão velhos quanto ele. Mas Marcel encontrou sua vocação: irá pintar o retrato de seu mundo pintando a si mesmo, pintando o retrato do artista quando velho, viajando no Tempo. Nem todos estão fadados a se tornar artistas, esses seres excepcionais que se convertem no que são a partir de alguma compulsão interior, não importando quanto tempo passe. O narrador é um dos eleitos: escreverá um grande romance - e o romance que o leitor acabou de ler é o romance que o narrador irá escrever. Ele aprendeu sua lição de vida: o preço a pagar em busca da verdade perdida é alto, até extorsivo, mas vale a pena. Somente a arte é capaz de transpor os abismos entre as intermitências do coração. Peter Gay, Modernismo

O que ela sussurra, de Noemi Jaffe

Tatianna me critica: eu não deveria dedicar minha vida a memorizar poemas que não serão lidos nem impressos e menos ainda publicados, me arriscando por palavras que não fui eu quem criou, ainda mais depois de você ter perdido a vida só por causa de um poema que criticava aquele georgiano filho da mãe. Eu mesma tmbém me critico, Óssia, mas tudo isso é mais forte que minha vontade, é o próprio corpo que quer e que só mantém a saíde, ainda que frágil, à custa de cigarros Belomon e sussurros. Se não te digo teus poemas algumas horas antes de dormir, todas as noites, enfraqueço, o cansaço pesa mais e mal consigo dormir as poucas horas que a exaustão me permite. Não faço isso para que você tenha a chance de ser lembrado na posteridade e para que teus poemas não se percam no esquecimento. Faço por mim, para me manter viva, para atenuar o buraco das horas, para que meus músculos tenham vigor na medida exata para acordar no dia seguinte. Ossip Mandelstam (1891-1938) pertenceu aos Acmeístas, gru