A minissérie em seis episódios dirigida por David Simon e que passou em abril na HBO é simplesmente a melhor adaptação de um livro de Philip Roth. Sua obra, de fato, não vinha sendo muito bem tratada pelo cinema. A adaptação de um de seus melhores livros, A marca humana (The Human Stain) foi decepcionante (Anthony Hopkins não convence como Coleman Silk).
A série faz algumas alterações em relação ao livro. A única que, para mim, não se justifica, é a substituição da família Roth pelos Levins... afinal, o Philip é um Philip Roth... Outras, no entanto, conseguem soluções até melhores: Roth imaginou que, após o desaparecimento de Lindbergh, os americanos votariam convictamente nos democratas. Mas no último episódio há, digamos, uma necessidade de se garantir essa vitória...
Como no livro, temos personagens deslumbrados com um falso acesso ao poder, outros com medo de uma repetição, na América, do que acontecia na Europa, fora aqueles crentes em tudo o presidente-heroi nacional fala. Mas o principal personagem é o medo. Este sim, reina absoluto, no livro como na série. Como o seu vizinho, como o policial do bairro, como todos podem, em pouco tempo, se tornar uma ameaça.
Zoe Kazan (nunca tinha assistido nada dela, que eu me lembre) como Bess é uma tremenda atriz; Turturro, que sempre fez papeis estranhos, está ótimo como o rabino Lione Bengelsdorf, carismático e apoiador do presidente; Winona Ryder como a irmã mais velha de Bessie, independente e que vai acabar, com o rabino, seduzida pela Casa Branca.
Agora é torcer para que David Simon faça o mesmo com o último livro de Roth, Nêmesis, de 2009, e que viria bem a calhar neste momento.
O livro e agora o filme constituem o ovo da serpente. Guardadas as devidas proporções históricas, estamos assistindo isso por aí. Como já assistimos um pouco antes com sinais trocados. Como agora é moda, um anti-Trump. Mas deixando de lado os verdadeiros fascistas que, se não existem em numero ameaçador, tem seus métodos copiados pelo extremismo de todos os matizes. E o rabino adesista tb tem - sem redundância - adesões.
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