Bálcãs, sempre eles.
Nos últimos anos, pesquisando sobre os últimos dias do Império Otomano, sefaradis otomanos e Trácia, li muitos relatos de viagens pela região. Evlyia Çelebi, o grande contador de histórias do século XVII, escreveu em dez volumes "O Livro de Viagens" (Seyahatname). Viajou por todo o território do império, então em seu apogeu. Mais tarde, já quando o país se encontrava em franca decadência, o reverendo Walsh escreveu "Narrativa de uma Viagem de Constantinopla à Inglaterra".
Recentemente, li "Border: a Journey to the Edge of Europe", de Kapka Kassabova. A autora nasceu na Bulgária em 1973. Filha de cientistas, mudou-se para a Nova Zelândia ainda adolescente e hoje vive na Escócia.
"Border: a journey..." é um livro de não-ficção literária sobre a conturbada e esquecida (para os ocidentais) fronteira entre Turquia, Bulgária e Grécia. Uma fronteira extremamente perigosa do ponto de vista de um búlgaro no regime comunista do cinzento Todor Zhivkov, "um Muro de Berlim florestal vigiado e encoberto pelos exércitos dos três países". Era uma opção de fuga do mundo comunista. Do lado turco, a situação também não era confortável. Hoje, é uma rota em sentido contrário, com levas de sírios passando pelo corredor turco em busca da União Europeia prometida. Edirne, neste sentido, é a cidade mais próxima da UE.
A viagem da autora tem início no Mar Negro, passa pelo Ródope, por cidades búlgaras e gregas e, claro, também pela Trácia turca: Edirne ("uma cidade de mesquitas do tamanho de estádios e jardins de tulipas") e Kirklareli estão entre as cidades visitadas. Mas o livro vai além. Em um relato pessoal, a autora vai da era otomana ao período pós-comunista, passando pela Guerra Fria e chegando à atual crise de refugiados. Quis ver locais proibidos de sua infância. E isso é o que torna este livro especialmente interessante.
Como ela mesmo afirma, netos de turcos, gregos e búlgaros deslocados nas 'trocas de populações' ainda hoje viajam para as cidades e vilas dos seus ancestrais na Trácia, para as casas em ruínas, as cozinhas abandonadas às pressas, já que seus moradores fugiam para salvar suas vidas atravessando as novas fronteiras. E, hoje, a região é objeto do que chama de "turismo ancestral", praticado pelos três lados da fronteira.
Não estou em nenhum dos três lados da fronteiras, mas num país gigantesco que não tem nenhum problema sério de fronteira relevante há mais de 150 anos. E, mesmo assim, sou um turista ancestral.
A Trácia é mesmo uma região diferente. Nas palavras de Kapka, "é onde algo como Europa começa e alguma outra coisa, que não é exatamente a Ásia, termina". "Border" é um livro que merece ser editado por estas bandas.
Como ela mesmo afirma, netos de turcos, gregos e búlgaros deslocados nas 'trocas de populações' ainda hoje viajam para as cidades e vilas dos seus ancestrais na Trácia, para as casas em ruínas, as cozinhas abandonadas às pressas, já que seus moradores fugiam para salvar suas vidas atravessando as novas fronteiras. E, hoje, a região é objeto do que chama de "turismo ancestral", praticado pelos três lados da fronteira.
Não estou em nenhum dos três lados da fronteiras, mas num país gigantesco que não tem nenhum problema sério de fronteira relevante há mais de 150 anos. E, mesmo assim, sou um turista ancestral.
A Trácia é mesmo uma região diferente. Nas palavras de Kapka, "é onde algo como Europa começa e alguma outra coisa, que não é exatamente a Ásia, termina". "Border" é um livro que merece ser editado por estas bandas.
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