Os livros de Pamuk costumam ser longos, coisa de mais de 500 ou 600 páginas. Este, cuja edição em inglês saiu em 2017, minutos e inédito no Brasil (li no Kindle), é bem mais curto, com 250 páginas, mas os principais temas do escritor estão presentes: o conflito entre tradição e modernidade, Ocidente e Oriente. Há também um tom de fábula, bem característico da prosa pamukiana.
O personagem principal - e narrador das duas primeiras partes - é Cem. A ausência de seu pai, militante comunista nos anos 80 na Turquia (em outras palavras, vivia preso ou fugindo do cárcere) o levou a uma quase obsessão com a história grega do Rei Édipo - e do épico persa Shahnameh de Ferdowsi. Duas visões (Ocidente e Oriente) para a mesma tragédia? Um filho que nunca conheceu seu pai o encontra já adulto; nenhum reconhece o outro; ambos lutam e um deles morre - Sófocles mata o pai, já na história de Ferdowsi, Rostan acaba assassinando o filho Sohrab. Pamuk já havia recorrido a essas duas narrativas em Meu Nome é Vermelho - seu melhor romance.
A primeira parte é centrada na vida do mestre Mahmut, o escavador que ainda se utiliza das técnicas tradicionais otomanas para localizar água no subsolo de Istanbul. Mahmut é o pai islâmico. O jovem Cem, à procura da figura paterna, e também de dinheiro para pagar seus estudos, se oferece para trabalhar nessas escavações, para desgosto de sua mãe que, no entanto, resignadamente aceita a iniciativa do filho. Atuando na região de Öngören, o mestre conta diversas histórias do Corão.
É nessa parte que surge a misteriosa ruiva, membro de um grupo de esquerda, viajando com sua trupe de teatro e bastante, digamos, liberal, com o dobro da idade do adolescente Cem. É o objeto do desejo de Cem, que passa a andar pelas ruas à sua procura. Claro que irá encontrá-la. Adivinha o que irá acontecer entre os dois...
Na segunda parte, a história se concentra no adulto Cem, o filho ocidentalizado e secularizado. Cem enriquece, casa-se e, com a esposa, viaja pelo mundo. Como o casal não tem filhos, dedica-se ao trabalho, à empresa, às viagens. Está constantemente no Irã e se surpreende com a cultura persa - e a forma como ela mantém viva a tradição, ao contrário da perdida e ocidentalizada Turquia.
A figura do mestre Mahmut ainda assombra Cem - que o abandonou num acidente exatamente naquele período em que trabalharam juntos, exatamente naquele momento em que só queria saber da ruiva. Estaria vivo? Se morto, teria morrido por sua culpa? Em determinado momento, recebe uma mensagem que irá mudar tudo. Sim, o mestre sobreviveu ao acidente, mas já morreu há alguns anos. Mas o episódio voltará a assombrá-lo.
E eis que a terceira parte é narrada pela... ruiva, Gülcihan. Não mais uma atriz fogosa de trinta e poucos anos, mas já uma senhora, mãe. Bom, cabe a ela nos contar o restante dessa história.
Que venha logo para o Brasil.
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