Parque cultural
Serguei Dovlatov
Tradução de Yulia Mikaelyan
Kalinka, 166 p.
Os últimos anos foram extraordinariamente bons para a literatura russa no Brasil, não só pelas novas traduções, diretas, dos clássicos que líamos a partir de versões francesas ou inglesas, como de autores do século XX que ignorávamos por completo. A Kalinka, por exemplo, vem lançando a obra de Serguei Dovlatov (1941-1990), de quem li este Parque Cultural, na tradução de Yulia Mikaelyan, que ainda apresenta textos introdutórios da vida e da obra do autor.
O narrador em crise encontra trabalho num estranho parque temático, uma Disney para o grande fundador da literatura russa Puchkin. As Colinas de Puchkin. O parque de fato existe. Acho que só os russos levam seus escritores tão a sério.
Na novela, os turistas procuram cada detalhe de sua vida - alguns estrangeiros, claro, mas muitos soviéticos. Ávidos por informações que provavelmente já terão esquecido no dia seguinte; da origem africana que é convenientemente trabalhada até a arma usada no duelo fatal - o turista faz questão de saber se era, de fato, a arma.
Censurado, publicado clandestinamente e somente levado a sério após a morte, Dovlatov impõe ao seu alter-ego o mesmo destino, por meio de ironias a respeito da escrita e da censura. Estamos nos anos cinzentos anos 70 da estagnação sob o governo Brejnev: antissemitismo, emigração... Boris Alikhanov, discutindo a possibilidade de sair da URSS com sua esposa e sua filha, pergunta:
- Mas meus leitores estão aqui. E lá... Quem vai querer ler meus contos em Chicago?
- E quem os quer aqui? A garçonete do Lukomorie, que nem o cardápio lê?
- Todos. É que ainda não se deram conta disso.
Um livro curto, baseado em diálogos - como Dovlatov se sai bem com eles! - e divertidíssimo.
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