Minha primeira incursão na obra do espanhol Javier Cercas é justamente no romance A velocidade da luz. Um autor que merece toda a atenção - de quem pretendo em breve ler o que muitos consideram sua obra-prima, Os soldados de Salamina (sobre um episódio da Guerra Civil espanhola), além de Anatomia de um instante (sobre a redemocratização e a tentativa de golpe de 1981).
Neste A velocidade da luz Cercas cuida de outro momento histórico, um tanto alheio à experiência espanhola, a Guerra do Vietnã. Mas ela é apenas um pretexto para uma ideia bastante arriscada (mas que funciona muito bem): a história de um escritor e da construção de um personagem, Rodney Falk, um veterano de guerra com quem o narrador travou contato num período de estudos numa universidade americana, em Urbana, Illinois. Falk nos é apresentado, mais pelo seu pai e sua esposa do que pelo próprio.
O romance, na verdade, não trata do Vietnã, ou mesmo de Falk. Está centrado na história do anônimo narrador em busca de um livro que lhe permita escapar de uma praga bastante comum (não só) no meio literário: o sucesso do primeiro livro. Cercas não é o personagem, mas já afirmou em entrevistas ter passado pelo mesmo processo, após Os soldados de Salamina - bloqueio criativo, sentimento de culpa etc.
A fórmula do personagem escritor em crise não é exatamente original. Ainda assim, vale a pena a leitura. Os atos de Falk no Vietnã, são apresentados de forma bastante impactante, e o comportamento do narrador com sua família, com uma crueza não menos impressionante.
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