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Mostrando postagens de junho, 2018

Com Borges, de Alberto Manguel

Com Borges Alberto Manguel Traduzido por Priscila Catão Editora Âyiné, 2018 Abro caminho com os ombros no meio da multidão na Calle Florida, entro na recém-construída Galeria del Este, saio pelo outro lado e atravesso a Calle Maipú e, encostando-me na fachada de mármore vermelho do número 994, pressiono o botão do 6B. Entro no hall frio do prédio e subo os seis andares de escada. Toco a campainha e a empregada abre a porta, mas, antes que ela me deixe entrar, Borges sai de trás de uma cortina, com a postura bastante ereta, terno cinza abotoado, camisa branca e gravata amarela listrada levemente torta, arrastando-se um pouco ao se aproximar. Cego desde quando havia quase sessenta anos, ele se move hesitante mesmo num espaço que conhece tão bem quanto o seu. Estende a mão direita e me dá as boas-vindas com um aperto distraído e fraco. Não há mais formalidades. Ele se vira e me guia até a sala de estar, sentando-se ereto no sofá virado para a entrada. Eu me acomodo na poltro

Voragem, de Junichiro Tanizaki

Vim hoje à sua casa com a intenção de lhe contar todo o incidente, sensei, mas... noto que interrompi seu trabalho. Tem certeza de que não se importa? Narrada em detalhes, a história é longa e tomará um bocado de tempo... Eu podia até registrar os acontecimentos no papel em forma de romance e submetê-lo em seguida à sua apreciação, soubesse eu ao menos redigir melhor. Falando a verdade, eu me pus realmente a escrever há alguns dias num repente, mas o fato é que as ocorrências se embaralhavam em minha cabeça e, despreparada como sou, não consegui nem sequer descobrir por onde ou de que jeito começar. Logo vi que só me restava realmente esta alternativa: pedir-lhe a atenção. E aqui estou, embora aflita por perturbar suas preciosas horas de trabalho. Tem certeza de que não se incomoda? Sempre me tratou com tanto carinho, sensei, que acabo abusando da sua generosidade. Aliás, nunca serei capaz de agradecer devidamente tanta bondade, por mais que me esforce. É o primeiro parágr

La disparition de Josef Mengele, de Olivier Guez

Em 1949, Mengele chega a Buenos Aires. Perón está atento à chegada de hordas de fugitivos nazistas. Espera por uma guerra entre Estados Unidos e União Soviética e imagina que a Argentina pode se dar bem num cenário pós-apocalíptico. A caçada aos nazistas ainda não havia começado.  Esse trabalho de Olivier Guez (Strasbourg, 1974) recebeu o Prêmio Renaudot de melhor romance de 2017 - por seu "romance-verdade". Mas esse La disparition de Josef Mengele não é exatamente um romance. É realmente um grande trabalho de pesquisa e de reconstituição da vida do monstro alemão de 1949 a 1979, quando morre em circunstâncias estranhas em Bertioga. Guez nos mostra os contatos que mantiveram um dos homens mais procurados do mundo a salvo da Justiça - ele jamais respondeu pelos seus crimes.  De fato, Guez é um conhecido jornalista, que se destacou, na França, por L'impossible retour, une histoire des juifs en Allemagne depuis 1945.  Somente a partir de 1960, com a captura de

A Master Storyteller from 19th Century Brazil

É o que diz  este artigo do New York Times, celebrando o lançamento, em inglês, de um The Collected Stories of Machado de Assis.  São 930 páginas, que trazem 76 contos, traduzidos por Margaret Jull Costa e Robin Patterson. O artigo, assinado por Parul Sehgal, afirma que os contos não estão à altura dos romances, mas are a spectacular place to start.