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Mostrando postagens de janeiro, 2018

Pantaleão e as visitadoras, de Mario Vargas Llosa

  Pantaleão e as visitadoras Mario Vargas Llosa Alfaguara Tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman 246 p.  Publicado em 1973, é um dos mais conhecidos e elogiados romances de Mario Vargas Llosa. Pantaleão Pantoja é um oficial com um futuro brilhante pela frente no Exército, e recebe a missão (secreta) de organizar o Serviço de Visitadoras para Guarnições, Postos de Fronteiras e Afins, sob a burocrática sigla SVGPFA. Uma operação para baixar a temperatura da tropa: um serviço de prostitutas que devem saciar os soldados solitários e perdidos em serviço no interior da selva amazônica, e que se tornaram uma ameaça para as mulheres e animais da região. Diligentemente, Pantaleão, que não fuma, não bebe, jamais traiu sua mulher - um sujeito que não cede a vícios e tentações - faz um estudo de mercado completo. Sua planilha merecia ser estudada nos MBA: quantifica o público alvo, estabelece o número de visitadoras a contratar, o tempo de cada "visita"....

A história dos judeus, de Simon Schama

Passei a acompanhar Simon Schama assistindo aos seus documentários sobre arte, que começaram a ser transmitidos no incrível canal da TV a cabo Arte1. E, conhecendo o autor, fui direto ao primeiro volume da sua História dos Judeus , que saiu por aqui pela Companhia das Letras. O título original é Story, e não History of the Jews. A ideia é mesmo a de um contador de histórias, muito mais que o trabalho de um historiador.  Assim, o livro começa com uma carta escrita por um pai aflito ao seu filho, um mercenário por volta de 475 a.C. – você está sendo pago? Está comendo direito? – que integrava a tropa judaica, nas ilhas Elefantinas, último posto da civilização à beira do deserto da Núbia. Schama mostra que era possível ser judeu e egípcio. Como, depois, por séculos, seria perfeitamente natural ser judeu e árabe. Até que Maomé aparece e mais uma religião monoteísta aparece. Das ilhas Elefantinas até a expulsão dos judeus da Espanha dos Reis Católicos, Schama mostra a v...

Aharon Appelfeld (1932-2018)

Ontem, dia 4, morreu o escritor israelense Aharon Appelfeld, aos 85 anos. Dele, li Badenheim 1939, um dos melhores livros sobre o Holocausto.     Appelfeld nasceu em Czernowitz, então parte da Romênia e hoje território ucraniano. Sobreviveu ao Holocausto escondendo-se nas florestas da Romênia, trabalhou por alguns meses para o Exército Vermelho, que deixou em 1945 e, no ano seguinte, aos 14 anos, emigrou para a Palestina - segundo ele, não havia lugar para órfãos na Europa. Recusava a classificação de "escritor do Holocausto", por entender que não se pode ser um "escritor da morte". Foi professor de letras na Universidade Ben Gurion.  Era grande amigo de Philip Roth (há uma conversa entre ambos no livro Entre nós , do escritor americano), que nele se inspirou para escrever seu melhor romance, Operação Shylock .

Lincoln in the Bardo, de George Saunders

O último livro que li em 2017 foi o vencedor do Man Booker Prize do ano. Lincoln in the Bardo , de George Saunders, será lançado no início de 2018 pela Companhia das Letras, e recebeu críticas entusiasmadas na imprensa americana. Talvez por ter lido no Kindle, demorei algumas páginas para entrar no espírito da obra, estranhando um pouco a formatação. Mas valeu a pena. Uma obra estranha, sem dúvida, de um experimentalismo pouco usual. Em determinados momentos, uma colagem (que faz sentido) com notas de diários, livros e periódicos do período; em outros, monólogos e diálogos entre fantasmas. Logo na abertura, um monólogo de um certo Hans Vollman, que conta que tinha 46 anos no dia de seu casamento com uma jovem de 18 e que, ciente de todas as circunstâncias, não forçou sua noiva a nada, apenas propondo-lhe sua amizade. Com o passar do tempo, essa amizade se tornou em verdadeiro amor e, quando Hans e a esposa finalmente iriam "expandir as fronteiras de sua feli...