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O homem que amava os cachorros, de Leonardo Padura

O homem que amava os cachorros
Leonardo Padura
Tradução de Helena Pitta
Boitempo, 2014, 592 p.



Um livro sobre o assassinato de Trotsky escrito por um cubano residente na ilha, recomendado pela Presidente da República e editado no Brasil por uma editora de esquerda, com um pequeno texto do Frei Betto. Nada que me dê ganas de encarar um tijolo de quase 600 páginas. Mas fui em frente e hoje concluo a leitura do que talvez seja o melhor livro que li este ano.

São três cenários: O primeiro, da fuga épica do casal Bronstein - inimigo da Revolução - pelo Casaquistão, passando uma grande temporada na Turquia de Mustafá Kemal (o único a lhe abrir as fronteiras, ainda que Trotsky soubesse que não poderia ficar por lá por muito tempo) e terminando seus dias no México (Coyoacán). Em Barcelona, em plena Guerra Civil, Ramón Mercader é recrutado para executar as ordens de Stalin e se livrar do incômodo rival. E, em Cuba, Iván quer se tornar escritor e tem um encontro com um estranho personagem - Jaime López, o próprio Ramón, um sujeito que também tem paixão por cães. Ele passou por várias prisões mexicanas, foi para Moscou e terminou seus dias em Cuba, onde morreu em 1978.

A vida de Iván mudou ao conhecer Ana - foi isso que tornou a vida em Cuba falida com o fim da URSS mais tolerável. Ramón era um sujeito complicado, envolvido com duas mulheres: a mãe, Caridad del Río e a amante Africa de las Heras (elas existiram, efetivamente). Melhor mesmo ir ao México. Já Trotsky aparece com Natália e Frida Kahlo. 

Padura mostra a relação de Trotsky com os políticos locais dos países em que viveu. E também com os artistas: além de Frida Kahlo, Diego Rivera. Outro ponto interessante é a visão bastante crítica dos republicanos. Os stalinistas de Moscou dominaram e manipularam o movimento de forma gritante e com mão de ferro.  

Estas três histórias vão correndo paralelamente (obviamente, uma hora Ramón passa a conviver com Trotsky). A estratégia do autor funciona realmente muito bem - afinal, todos já sabemos que, mais página menos página, uma picareta irá destruir o crânio de Trotsky.  Em nenhum momento o texto se torna entendiante ou desnecessário. Também não se torna um livro didático (defeito que volta e meia destrói obras de ficção de fundo histórico). O ritmo é alucinante, e não à toa os direitos de adaptação para o cinema já foram devidamente adquiridos por uma produtora francesa.

O único incômodo está numa simpatia inegável do por Trotsky; ele é visto como um sujeito que poderia ter dado um rumo diferente às coisas... o próprio Padura já disse, em algumas entrevistas, que o que destruiu o socialismo e a URSS foi o próprio socialismo stalinista, e não os EUA. É um pouco esquisito. Mas, como obra literária, impecável.





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