Os livros de Pamuk costumam ser longos, coisa de mais de 500 ou 600 páginas. Este, cuja edição em inglês saiu em 2017, minutos e inédito no Brasil (li no Kindle), é bem mais curto, com 250 páginas, mas os principais temas do escritor estão presentes: o conflito entre tradição e modernidade, Ocidente e Oriente. Há também um tom de fábula, bem característico da prosa pamukiana. O personagem principal - e narrador das duas primeiras partes - é Cem. A ausência de seu pai, militante comunista nos anos 80 na Turquia (em outras palavras, vivia preso ou fugindo do cárcere) o levou a uma quase obsessão com a história grega do Rei Édipo - e do épico persa Shahnameh de Ferdowsi. Duas visões (Ocidente e Oriente) para a mesma tragédia? Um filho que nunca conheceu seu pai o encontra já adulto; nenhum reconhece o outro; ambos lutam e um deles morre - Sófocles mata o pai, já na história de Ferdowsi, Rostan acaba assassinando o filho Sohrab. Pamuk já havia recorrido a essas duas narrativas e