Jogo de cena em Bolzano
Sándor Marái
Tradução de Edith Elek
Companhia das Letras, 2017
248 p.
Deveria matá-lo? Seria um grande erro. O homem que é amado, quando morto, constitui um inimigo perigoso; você estaria lá, do nosso lado à mesa, na cama da condessa, com os passos leves dos mortos você nos espiaria nos quartos, no jardim, estaria presente em todo lugar. Sua imagem estaria cercada pelo luto, pela pompa majestosa, as emoções e as lembranças embaladas em veludo preto e prata. E a vingança púrpura flutuaria em torno de sua memória, um vingança muda e fumegante iluminaria o caminho de suas lembranças, e eu me converteria no covarde e egoísta, no mesquinho e palerma que matou o único e maravilhoso homem que Francesca precisava ver! Não, meu filho, não vou matá-lo.
Jogo de cena em Bolzano é o último romance de Sándor Marái (1900-1989) publicados no Brasil.
Giacomo Casanova nasceu em Veneza em 1725 e logo se tornou sinônimo de libertinagem. Por atividades antirreligiosas, foi preso na sua cidade em 1755 e, no ano seguinte, consegue escapar do cárcere, com o abade Balbi. O romance se passa quando, após essa fuga espetacular, em 31 de outubro de 1756, Casanova está escondido em Bolzano. Nesta cidade, reencontra seu rival, o conde de Parma, com quem, anos antes, duelou por Constança, agora condessa.
À época, o conde prometeu a Casanova que a próxima vez que o encontrasse seria também a última: jura-o de morte. Agora, anos mais tarde, o Conde de Parma resolve visitá-lo, entregando-lhe uma carta e uma proposta. O Conde se humilha de uma forma absolutamente arrasadora. Ao contrário do que ocorrera no passado, o confronto entre o Conde e Casanova, agora, se dá através de uma tensa conversa, que tomará praticamente todo o livro.
À primeira vista, um trabalho bem diferente dos demais de Marái, autor de As brasas, Confissões de um burguês, Divórcio em Buda, Liberdade. Numa leitura um pouco mais atenta, porém, vemos os mesmos elementos: uma grande conversa entre dois rivais (são dois amigos que se reencontram depois de quarenta anos em As brasas).
Muito tempo sem ler o Sandor. Autores mortos não lançam mais novidades. Mas aqui na pindorama, livros de mortos viram novidades. Boa lembrança do autor. Vou ler
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