Pouquíssimo conhecido no Brasil, como a literatura suíça em geral, Friedrich Dürrenmatt (1921-1990) escreveu peças e romances policiais. Salvo engano, foi publicado por aqui lá pelos anos 90.
A Promessa (1958) é quase uma tese sobre o romance policial. Um ex-comandante da polícia encontra o autor após uma conferência literária sobre o gênero. Começa a criticar ambos: o romance policial é uma farsa, os escritores nos enganam, dando um crédito indevido à lógica... e começa a contar um episódio.
Assim, em poucas páginas, o narrador deixa de ser o autor e passa a ser o próprio ex-comandante, que conta uma história ocorrida há muitos anos. Matthäi, grande comissário de polícia, prestes a deixar a Suíça para assumir um posto na Jordânia, resolve postergar sua nova missão para investigar o assassinato de Gritli Moser, uma menina de Magendorf. Matthäi promete aos seus pais desolados encontrar o assassino. É a promessa.
O corpo foi encontrado na floresta pelo caixeiro viajante (ainda existem caixeiros viajantes?) von Gunten. Todos os indícios levam à sua culpa. Matthäi discorda, mas a população exige um culpado. Coincidências de local, horário, bem como o fato de o suspeito vender, entre outras coisas, uma faca, criam em todos a convicção de que o crime está solucionado.
Cético, Matthäi se envolve definitivamente no caso com o suicídio de Von Guten. Está convencido de que um trágico erro fora cometido. E, dessa forma, não cumpriu a promessa feita aos pais da vítima.
A forma como Matthäi se vincula à promessa feita pode ser considerada por muitos, cinicamente, irreal, mas é o grande motor desse romance de cerca de 150 páginas. Sua vida é completamente alterada, ele desiste da Jordânia, acaba se isolando em um posto de gasolina, perde boa parte de sua reputação... busca uma racionalidade perfeita, explica-a ao narrador da história. Numa história policial clássica, o desfecho seria, certamente, outro, com toda essa dedicação culminando em uma recompensa ao dedicado comissário. Mas não é exatamente isso o que acontece.
O subtítulo - "um réquiem para o romance policial" - acaba sendo injusto: trata-se de um réquiem para a própria razão.
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