Li um conto de Igor Stiks (Sarajevo, 1977) na antologia Best European Fiction 2010, da Dalkey Archive Press, editada pelo Aleksandar Hemon. No conto No mercado de Sarajevo, a história de pessoas, em meio à guerra de 1995, vendendo suas bibliotecas pessoais a preço de banana no mercado da cidade - o que aconteceu com aquele seu livro tão especial?
Um belo conto, que me levou a este A castle in Romagna, achado em inglês na Amazon(Kindle).
Duas narrativas são apresentadas. Em 1995, um turista bósnio, em companhia de mais duas mulheres, visita o Castello Mardi, em Rimini. Está interessado na história de Enzo Strecci, "um gigante da literatura renascentista", que lá passou seus últimos momentos esperando por sua morte.
Os três estão entrando nas ruínas. Lá, um frei, especialista na história do Castello e de Strecci, identifica o idioma e, fascinado por encontrar um bósnio, procura detê-lo. Suas companheiras acabam por entrar nas ruínas, e o frei, após identificar-se como alguém da Bósnia, acaba conseguindo a atenção do turista. Está, a todo custo, querendo contar uma história. Ou melhor, duas.
Ao falar do que se passou em 1535 naquele mesmo castelo, o frei, na verdade, está contando uma outra história - a sua, passada na Iugoslávia de 1948, quando Tito se distanciava de Stalin (o que, evidentemente, gerou mais expurgos e execuções). Não são idênticas, claro, e não, o frei não tem nenhum parentesco com os personagens renascentistas. No entanto, as conexões entre as narrativas são evidentes.
Fica claro que, nos primeiros momentos, o turista quer se desvencilhar desta figura estranha e reencontrar suas amigas, mas logo percebe que, sim, deve ouvir o frei. A história de Strecci não é exatamente original e em poucas páginas já é possível adivinhar o que irá lhe acontecer. Mas é interessante observar o que acontece em seu julgamento, e a atitude de seus amigos em salvar o Mestre Mardi.
O trabalho de edição e seleção de Hemon continua a render boas descobertas, e o robô do Jeff Bezos ajuda a concretizá-las.
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