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O cidadão ilustre, de Mariano Cohn e Gastón Duprat (2016)

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Da série "filmes que não vi no cinema", este argentino já está disponível no Now. 

Mais um excelente filme argentino e, ao menos no Brasil, uma raridade: sem Ricardo Darín. Oscar Martínez é Daniel Mantovani (a atuação lhe rendeu o prêmio de melhor ator em Veneza 2016), um escritor argentino, ganhador do Nobel.

A rigor, o excelente roteiro não dá trégua para ninguém: a cerimônia em Estocolmo, onde seu discurso de "agradecimento" é uma pérola de arrogância e falta de educação; o próprio circuito pós-Nobel (ele recusa a participação em uma infinidade de eventos em escala planetária) é o primeiro alvo. Mantovani é uma figura difícil. Por alguma razão, aceita voltar a Salas, sua cidade natal, de onde saiu na juventude e para onde jamais voltou. 

Salas é um universo à parte: ainda que próxima a Buenos Aires, a cidade de interior é profundamente provinciana e, por que não, cafona. Mantovani é recebido pelo prefeito, desfila em carro do Corpo de Bombeiros (já viu isso em algum lugar?) ao lado da rainha da beleza de Salas... Há ainda um vídeo produzido pela prefeitura que conta a história do filho mais ilustre da cidade, que é simplesmente ridículo.

Lá, as coisas não serão fáceis. Toda a obra de Mantovani se dedica a criticar a vida provinciana do interior. E cada morador se identifica, de alguma forma, com algum personagem ou alguma passagem de seus livros, em geral com um ressentimento profundo. Em quatro dias de sua visita, a situação chegará a níveis insuportáveis, a partir de sua participação num festival de pintura para artistas locais (quando entrará em choque com o presidente da associação dos artistas plásticos de Salas).

Mostrando uma Argentina bem diferente daquela sofisticada e cosmopolita de Buenos Aires. Critica o Nobel, a intelectualidade, o provincianismo, os "dirigentes culturais". Em outras palavras, dificilmente teríamos um filme desses por aqui.


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