Um ano com lançamento de Ian McEwan é sempre um bom ano. Enclausurado tem como narrador um feto. Se Machado de Assis criou um autor defunto, McEwan tratou de nos apresentar um autor nascituro, ainda inominado. Poderia perfeitamente se chamar Hamlet, já que McEwan parece trazer para a Londres de hoje a história de Shakespeare. Gertrude (Trudy) e Claude planejam o assassinato do marido/irmão, John Cairncross, para se apoderarem do imóvel da família, uma velha casa em ruínas mas localizada num ponto da cidade que a faz valer alguns milhões. O Hamlet intra-uterino de McEwan é consciente. É como se, de dentro de sua mãe, dispusesse de uma boa biblioteca ou, vá lá, acesso ao Google: ele reconhece ser um felizardo, já que, de todas as opções possíveis, será um europeu ocidental. Claro, nem tudo é perfeito: não terá os benefícios sociais nem o poderoso fundo soberano de um norueguês, nem nascerá na ensolarada decadência italiana (e sua culinária) ou na França, com seu a...
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