A resistência Julián Fuks Editora Companhia das Letras, 2016 144 páginas Meu irmão é adotado, mas não posso e não quero dizer que meu irmão é adotado. Se digo assim, se pronuncio essa frase que por muito tempo cuidei de silenciar, reduzo meu irmão a uma condição categórica, a uma atribuição essencial: meu irmão é algo, e esse algo é o que tantos tentam enxergar nele, esse algo são as marcas que insistimos em procurar, contra a vontade, em seus traços, em seus gestos, em seus atos. Meu irmão é adotado, mas não quero reforçar o estigma que a palavra evoca, o estigma que é a própria palavra convertida em caráter. Não quero aprofundar sua cicatriz e, se não quero, não posso dizer cicatriz. O romance rendeu ao autor o Prêmio Saramago de 2017. Durante a leitura, lembro do que Tolstoi escreveu sobre as famílias, na primeira frase de sua Anna Karenina. Os pais do narrador (Sebastián) são psicanalistas argentinos que, diante da ferocidade da ditadura argentina de 1976, fog
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