Pular para o conteúdo principal

Os filhos do padre (2012), de Vinko Bresan

Não consegui assistir no cinema (passou em BH em 2014 durante algumas semanas) esse ótimo filme croata, que caiu na TV a cabo. Tratando de sexo (sem uma cena sequer de nudez) e religião, Bresan conseguiu fazer uma comédia diferente do que normalmente se espera diante desses temas.



O padre Fabian (Kresimir Mikic) chega a um vilarejo na costa da Dalmácia (sim, a fotografia já vale o filme) para substituir o pároco local, Jakov (Zdenko Botic). Este, no entanto, é extremamente popular e querido (joga futebol com os jovens e bocha com os velhos, e a incompatibilidade de Fabian com a bola não passa despercebida pela Biblioteca). Todos querem se confessar com ele, e Fabian fica de lado. Ele é, acima de tudo, um conservador, que quer ser apenas um padre. E está incomodado com o fato de, na vila, não nascer quase mais ninguém (só se morre...)

Como as filas são muito grandes, Petar (Niksa Butijer), que tem uma loja de tabaco, acaba se confessando com Fabian. É um assassino, diz, pois mata as pessoas antes de elas nascerem - é vendedor, também, de camisinhas.

Padre Fabian tem uma brilhante ideia - furá-las todas. A dupla se une ao esquisitão Marin, farmacêutico ultranacionalista que voltou da guerra meio pancada. Suas tiradas politicamente incorretas são notáveis - fala mal dos sérvios, dos muçulmanos albaneses e de qualquer outro "não-croata"... Ele troca seus anticoncepcionais por vitaminas. E assim povoará o mundo de croatas.

O resultado é uma explosão de nascimentos, o que chama a atenção de todo o mundo - a ilha do amor, dizem uns; o turismo cresce... e a Igreja, muito preocupada, envia um cardeal para a ilha. Acha que a culpa é do padre, mas, se este não estiver envolvido com pedofilia, tudo bem... O diálogo entre padre e cardeal é um dos pontos altos do filme.

O segredo do filme, além da Mikic, é o roteiro. Ágil, só mais para o final fica um pouco mais pesado, mas nem por isso desqualifica o filme como uma boa comédia, que vale a pena ser vista. 






Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O conto da semana, de Italo Calvino

O conto da semana é novamente de Calvino – Quem se contenta – e integra Um General na Biblioteca : Havia um país em que tudo era proibido. Ora, como a única coisa não-proibida era o jogo de bilharda, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilharda, passavam os dias. E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar. Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem. Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. - Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. Eles continuaram a jogar bilharda. - Entenderam? – os mensageiros insistiram – Vocês estão livres para fazerem o que quiserem. - Muito bem – responderam os súditos – Nós jogamos bilharda. Os mensagei

Conto da semana, de Jorge Luis Borges - Episódio do Inimigo

Voltamos a Borges. Este curto Episódio do Inimigo está no 2º volume das Obras Completas editadas pela Globo. É um bom método para se livrar de inimigos: Tantos anos fugindo e esperando e agora o inimigo estava na minha casa. Da janela o vi subir penosamente pelo áspero caminho do cerro. Ajudava-se com um bastão, com o torpe bastão em suas velhas mãos não podia ser uma arma, e sim um báculo. Custou-me perceber o que esperava: a batida fraca na porta. Fitei-o, não sem nostalgia, meus manuscritos, o rascunho interrompido e o tratado de Artemidoro sobre os gregos. Outro dia perdido, pensei. Tive de forcejar com a chave. Temi que o homem desmoronasse, mas deu alguns passos incertos, soltou o bastão, que não voltei a ver, e caiu em minha cama, rendido. Minha ansiedade o imaginara muitas vezes, mas só então notei que se parecia de modo quase fraternal, com o último retrato de Lincoln. Deviam ser quatro da tarde. Inclinei-me sobre ele para que me ouvisse. - Pensamos que os anos pa

Conto da semana - Saki

O conto da semana é   A Porta Aberta , de Saki, ou melhor, Hector Hugh Munro (1870-1916). Saki nasceu na Índia; o pai era major britânico e inspetor da polícia de Burma. O autor morreu no front francês durante a I Guerra. Já havia falado dele num post sobre a coleção Mar de Histórias , de Ronai e Aurélio, bem como um curta nacional. Ele está no volume 9. Mas apenas mencionei este conto, de cerca de cinco páginas. O vídeo acima é uma produção britânica de 2004 com Michael Sheen (o Tony Blair do filme "A Rainha") como Framton Nuttel, e Charlotte Ritchie como Vera, a menina de cerca de quinze anos que "faz sala" enquanto sua tia não chega. E começa a contar ao visitante sobre a terrível "tragédia" que se abateu sobre a tia, a Sra. Sappleton. O conto é um dos mais famosos de Saki, conhecido por tratar do lado cruel das crianças.